terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Na Hora do Nada


Na hora do nada

mais que qualquer niilista possa conceber...

Observem, meus caros amigos,

a feia fumaça de cinza-chumbo

vomitada de órfãs chaminés

de abortadas fábricas...

Eu faço meus cigarros

como quem se mata aos poucos

sem se importar mais...


Na hora do nada

num silêncio maior do que o surdo...

Está na televisão, meus caros senhores,

a novidade de novas bombas

esmagando as cidades

sem se importar com a vida...

Vou engolir todo o meu choro

e talvez até tenha a sorte

do meu coração implodir junto...


Na hora do nada

o mudo está tentando gritar...

Na confusão dos mercados, prezados amigos,

na mais louca das liquidações

somos a presa de um caçador insano

que vemos diariamente no espelho...

Não preciso ingerir veneno algum

há muitos novos deles

escondidos sob coloridas embalagens...


Na hora do nada

o cego anda na corda bamba...

E uma banda sem alaridos pela praça

anuncia novas impossibilidades

são as novidades inesperados

que envelhecem ao contato atmosférico...

O ar nos deixará sufocados

e a água nos matará de sede...


Na hora do nada

o condenado lerá sua sentença...

Nós nos alegramos com a tristeza

no mais genuíno egoísmo

que nos tira a imortalidade

que acabamos desconhecendo...

Abram alas para o carnaval desproposital

e para apatia de nossa crueldade...


Na hora do nada

o balão subirá ao chão...

Chegou a nossa grande hora

de sermos apenas um número à mais

e num tempo mais que breve

toda nossa história será esquecida...

O nosso quarto estará vazio

e as páginas de nossa livro em branco...

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