Na hora do nada
mais que qualquer niilista possa conceber...
Observem, meus caros amigos,
a feia fumaça de cinza-chumbo
vomitada de órfãs chaminés
de abortadas fábricas...
Eu faço meus cigarros
como quem se mata aos poucos
sem se importar mais...
Na hora do nada
num silêncio maior do que o surdo...
Está na televisão, meus caros senhores,
a novidade de novas bombas
esmagando as cidades
sem se importar com a vida...
Vou engolir todo o meu choro
e talvez até tenha a sorte
do meu coração implodir junto...
Na hora do nada
o mudo está tentando gritar...
Na confusão dos mercados, prezados amigos,
na mais louca das liquidações
somos a presa de um caçador insano
que vemos diariamente no espelho...
Não preciso ingerir veneno algum
há muitos novos deles
escondidos sob coloridas embalagens...
Na hora do nada
o cego anda na corda bamba...
E uma banda sem alaridos pela praça
anuncia novas impossibilidades
são as novidades inesperados
que envelhecem ao contato atmosférico...
O ar nos deixará sufocados
e a água nos matará de sede...
Na hora do nada
o condenado lerá sua sentença...
Nós nos alegramos com a tristeza
no mais genuíno egoísmo
que nos tira a imortalidade
que acabamos desconhecendo...
Abram alas para o carnaval desproposital
e para apatia de nossa crueldade...
Na hora do nada
o balão subirá ao chão...
Chegou a nossa grande hora
de sermos apenas um número à mais
e num tempo mais que breve
toda nossa história será esquecida...
O nosso quarto estará vazio
e as páginas de nossa livro em branco...
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