Fui eu que gritei na praça. Assustei os pombos que voaram em bando. Chamei a atenção dos discretos burgueses que iam ao encontro de sua fatalidade mesquinha, insípida e incolor.
Sim, fui eu.
Fui eu que puxei o gatilho. Acertei no peito da minha própria paixão e fui direto ao solo. Meu sangue escorria colorindo o asfalto de mais uma manhã quente como tantas outras.
Sim, fui eu.
Fui que cavei a minha cova. Cavei o máximo possível para não deixar vestígios. Ali repousará eternamente todos os sonhos que tive, muitos deles morreram bem antes de nascer.
Sim, fui eu.
Fui eu que mergulhei no rio. Queria engolir todas as suas águas de uma vez. Mas estava com pressa de chegar ao mar, o mar onde também serei mistério até o fim dos tempos.
Sim, fui eu.
Fui eu que levantou voo. Apesar de minhas asas estarem quebradas. Eu precisava chegar nas nuvens o mais cedo possível, Já faz muito tempo que não brinco, estou me esquecendo como rir.
Sim, fui eu.
Fui eu que derrubei os muros. Não os muros da maldade dos homens, mas o da minha. Aqueles cairão por sí próprios. Mais um pouco e os velhos preconceitos cairão como frutas podres.
Sim, fui eu.
Fui eu que acordei de madrugada. Me deu uma vontade incontrolável de dançar. Mesmo sem ter um par para isso, solitário. Dei prazer a mim mesmo de ver o sol nascer.
Sim, fui eu.
Fui eu que me vesti de todas as cores. Cores vivas e cores mortas. Num carnaval de ano inteiro. Apesar de todo o luto, não dei atenção para a tristeza, ela que vá embora.
Sim, fui eu.
Fui que aproveitei um papel rasgado, um tempo qualquer. Para escrever alguns versos teimosos. Se ninguém lerá, isso é apenas uma outra história...
Sim, fui eu...
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