sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome N° 115


Quase nada é o que somos, apenas o tempo gasto em qualquer ato. Histórias esquecidas, simples boato. Palavra engolida, olhos no fundo do prato. Onde andarão as canções que cantei um dia?  Errei meus erros, troquei a receita. Fuga pela esquerda, abismo  pela direita. É sempre noite, a fera espreita. Onde andarão os sonhos que me afligiram um dia? O menino engatinha, não sabe andar. A culpa não foi minha por querer te amar. O corpo agora definha, até não mais definhar. Essa solidão não é minha, mas teima me acompanhar. Onde estarão os brinquedos que brinquei um dia?


...............................................................................................................


Tudo normal... Mais um dia de comoções até disfarçadas entre sujeiras de ruas e sujeiras de almas. Virar a cara é a normalidade de qualquer cidadão. Mentir é a receita do médico e a recomendação da bula. Mãos estendidas em inúteis pedidos. O cheiro nauseantemente gélido de enfermaria sobe ao ar. O político mente para nosso deleite. O preconceito se mistura com argumentos de papel velho e amarelado. Nunca se sabe a hora exata de fechar os olhos. Temos evidências covardes demais. Se eu fosse um cão abanaria a cauda. Enlouqueço plenamente. Tudo normal...


...............................................................................................................


Velhas novas tristezas adjetivadas. Aquilo que eu queria, já não quero mais. Qualquer pedaço do teu corpo não será mais meu. Mesmo se a minha insistência for grande, não poderá engolir mais o mundo. O peito aperta até que eu grite. Acordo os justos no meio da madrugada. Hei de falar dos bem-te-vis até o dia que floresceram flores que nunca conheci. A cinza suja minhas mãos e isso pode ser preocupante ou não. Nesse exato momento tudo acontece em determinado canto do mundo. É grande formigueiro e nada mais, mesmo quando as formigas estejam com suas obrigações sociais em dia.


...............................................................................................................


A história ri da nossa cara, o que passa a ser lembrança nada mais é do que um pedaço de simples mediocridade. Escuto passos desconhecidos no corredor, até o sangue que gela permanece na mesma temperatura. Toda diferença tem um quê de igualdade, ainda não parei para observar qualquer um vice-versa. Minha opinião é apenas mais um ponto para acrescentar, desculpe o mau-jeito de meus maus-modos. Os pombos conhecem migalhas de longe, o instinto é tão inteligente como o cientista em seu laboratório. Todo vexame é guardado para mais tarde, hoje amanhecemos com um leve enjoo. 


...............................................................................................................


Abaixe o som. Eternidades são escolhidos por sorteio. Aumente o som. Todo final acaba acontecendo. Abaixe o som. A alegria pode me embriagar como uma droga qualquer. Aumente o som. Versos banais precisam de mais inspiração. Abaixe o som. O meu demônio dorme e acorda de mau-humor. Aumente o som. Todas as manhãs muitos zumbis passeiam. Abaixe o som. Quero escutar gemidos mesmo que fingidos. Aumente o som. O negócio é a alma da propaganda. Abaixe o som. A memória tem ladeiras íngremes. Aumente o som. Nunca nos esqueceremos de certas fogueiras. Abaixe o som. Trato com carinho todas as minhas incertezas. Aumente o som. Tropecei na escada e não há mais jeito. Abaixe o som. É melhor desligar...


...............................................................................................................


Um cego dedilha as cordas que não vê. Seu chapéu de palha amassado aos seus pés. Canta sobre terras que nunca foi, narra aventuras que nunca viverá. Alguns param, escutam e lhe jogam moedas. Outras jogam moedas e prosseguem. Outros observam e nada lhe dão. A maioria simplesmente passa. O suor escorre em seu velho rosto. Deve ter sol ou algum mormaço desses. Um cego dedilha as cordas que não vê. Esse é o tempo...


...............................................................................................................


Troco minha lucidez por algum sonho que possa acontecer - quem quer? Junto leva também milhares de palavras que não foram para o ar. E olhares silenciosos de madrugadas mal dormidas por ruas escuras e solitárias. Quem quer?


...............................................................................................................



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...