sexta-feira, 25 de maio de 2012

Triste Pintura


São mil cores.
São nenhuma.
E na imobilidade andarilha choremos.
Respiro o ar mas me sufoca.
São dias, senhor, dias, muitos dias.
Em que nada previsto aconteceu.
E o menino pintou retratos.
Sem tintas mas águas.
E será seu mestre sempre.
É um poço, senhor, é um poço.
E o céu não é mais ar.
Mas água e sombra.
Cores do fogo em quais lápis.
Esdrúxulas, insólitas, anômalas mas lindas.
Formas certeiras ingenuamente colocadas.
É uma brisa, senhor, é uma brisa.
São riscos dentro e fora do papel.
É o galope de um bicho qualquer.
O bicho das nuvens, os bichos das nuvens.
Tantos eles. Tantos serem.
É a mágica do cotidiano desnudo.
É o cego. É o surdo. É o mudo.
As vezes sim. As vezes não.
Ao lado. Do lado.
Em cima ou embaixo.
Sem nenhuma certa direção.
Como eu em tensos dias.
É a fome. É o nome. É o homem.
Peço perdão sem nunca ter.
E nesta volta em muitos graus.
Ponto único no papel.
Não há nada, não há nada.
Mas torcemos que lá esteja.
É o fato. É à jato. Campeonato.
A tela, a novela e a cerveja.
E tudo que seu mestre mandar?
Faremos todos!
E se não fizermos?
Levaremos bolo!
O quadro verde é negro.
A pena alheia é santa.
Os riscos são vivos ou mórbidos.
E separando dá nada.
E os anjos riem um bocado.
E as palavras conspiram.
Me dê cá outras cores.
Conheço todas e quero quase.
Não se faça de rogado.
Beijos e beijos e beijos.
Para a última refeição do condenado.
Depois cigarro e rir de tudo.
Quando muito nome de rua.
É minha mas pode ser sua.
É nova mas pode ir a prova.
É velho mas nele me espelho.
São pipas num ar esquecível.
É medo de bacurau.
É jornal. É mural.
Se sangra faz menos mal.
Se ri faz menos dano.
É humano! É humano!
Corre. Está fora do plano.
É simples. É livre.
Cuidado. O rei inda vive.
Não tive. Não tive.
Eu sei fazer muitas rimas.
Eu sei fazer muitos versos.
Perversos, inversos.
E os pés estão sempre na areia.
Não leia. Não creia.
Botaram fogo na aldeia.
Era noite de lua cheia.
E meia. Bambeia.
É a foto. É a moto.
Eu lembro mas nem noto.
São mil cores.
São nenhuma.
Canetas e novidades.
Rabiscos e à vontade.
Desenhos da bela tarde.
Os mortos estão de pé.
E ainda tem a maré.
E ainda tem o cuidado.
E ainda tem o coitado.
No final é culpado.

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