terça-feira, 21 de maio de 2024

Carliniana XLV (Indissolúvel)

 

Plano A...

Plano B...

O amor é uma pedra

Que teima se dissolver na água

Quem poderá consegui-lo?

Plano A...

Plano B...

O pássaro encontrou 

A porta da gaiola da realidade

Quem poderá alcançá-lo?

Plano A...

Plano B...

O tempo caminhou

E foi destruindo pelo caminho

Quem poderá evitá-lo?

Plano A...

Plano B...

A lógica arriscou

O tiro saiu pela culatra

Quem está no rebanho?

Plano A...

Plano B...

O carrasco morreu

Seu corpo está pendurado

Quem nasceu pra semente?

Plano A...

Plano B...

Plano C...

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem janela, chão sujo de muitos anos, tralhas e lixo espalhados por todos os cantos (bela decoração, não?). O vaso quebrado, sem sifão, a merda descia direta com o mijo e o cheiro "agradável" subia. Coleção de goteiras, matagal no quintal, coleção de mosquitos com fome e outros insetos daninhos. Algumas lacraias pra dar algum medo, claro. Vez ou outra, alguma cobra. Mobília? Tá de sacanagem, né? Umas roupas velhas, ou espalhadas pelo chão duro ou em sacolas de mercado, alguns cobertores velhos ou  aquele edredom que um dia prestou. Inumeráveis pontas de cigarro do Paraguai e cinzas de maconha. Quem entra lá? Qualquer um! É só estar pra lá de bêbado ou ser tão miserável quanto os moradores fixos. Algum toco de vela por aqui ou por ali (a luz foi cortada faz tempo). Água? Só da chuva ou pega na vizinha que fazia cara feia, mas dava. E, finalmente, maravilha das maravilhas, dois pedaços de concretos já pretos de fumaça, onde vez em quando, o fogo surgia embaixo (madeira velha catada em quintais baldios ou achada em entulhos de obra) onde as latas de tinta vazias ou algumas panelas já velhas e amassadas ferviam a comida igualmente miserável para encher a barriga de quem a cachaça também virou comida. Não adianta roubar nada, aqui não tem nada que preste, apesar de que pode surgir um pobre mais pobre do que os pobres que moram ali, nunca se sabe. O casal dorme junto, abraçados e talvez até sonhem que vivem enquanto não...

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Carliniana XLIV (Tranças Imperceptíveis)

Quero deixar de trair a mim mesmo

dentro desse calabouço de falsas ilusões

Nada é mais absurdo do que se enganar

com falsas e amenas soluções

Uma trança vai me enforcando

sabe-se lá até quando...


Beber deste meu último e derradeiro trago

e deitar e voltar para o outro lado até dormir

Para a noite passar desapercebida em branco

até que eu sinta que não estou mais ali

E quando perceber esse abismo

é porque nele eu já cai...


Uma trama imperceptível feito uma teia

que uma simples aranha me espera

E todo sangue seja sugado desta veia

e me devore feito uma quimera

E me livre logo desta cadeia

como quem traz outra primavera...

Poesia Gráfica LXXXVI

T U A T R A N Ç A

T O D A D A N Ç A

T U D O A L C A N Ç A

F E R O Z E M A N S A


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I N V A S Ã O D O J A R D I M

A T E N Ç Ã O E M M I M

I N T E N Ç Ã O E N F I M

T E S Ã O C A R M I M

C O N S U M A Ç Ã O E N F I M


...................................................................................


S E T E P E C A D O S

S E T E P E S C A D O S

M O S C A M O R T A 

M O S C A P O R T A

M O S C A T O R T A


...................................................................................


T E N H A F É 

T E N H A P É

T E N H A R É

T E N H A Z É

T E N H A N É 

T E N H A T É 


...................................................................................


G R E G O S & T R O I A N O S

G R E G O S & B A I A N O S 

G R E G O S & T O S C A N O S

G R E G O S & C U B A N O S

G R E G O S & C H I C A N O S

G R E G O S & P E R U A N O S

G R E G O S & U R B A N O S

C H U R R A S C O G R E G O


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C O N E X Ã O U R B A N A

P R É D I O S A P A T A S

C O N E X Ã O U R B A N A

T É D I O S P R I M A T A S

C O N E X Ã O U R B A N A 

M É D I O S D E P A T A S 


...................................................................................


B O N E C A D E P A N O

S O U H U M A N O

B O N E C A D E P A N O

S O U P R O F A N O

B O N E C A D E P A N O

T E N H O H U M A N O

E S Ó. . .

domingo, 12 de maio de 2024

Poema Baseado Em Nada, Somente Em Nada, Nada Mais Que Nada

Decoro letras impossíveis

Como quem come um pão velho

apanhado neste lixo...


Me dou ao luxo de pensar

Mesmo que seja de forma torta

sobre porra alguma...


Mostro o dedo do meio

Para a sombra do que eu era

como se isso adiantasse...


Quebro a pedra com socos

Sem me importar com ferimentos

esta carne nunca foi minha...


Os pombos não arrulham

Falam em sotaque quase inglês

com pitadas de internet...


Qualquer arte pode ser uma

Mesmo tirar melecas do nariz

de um jeito mais especial...


Eu sou a única testemunha

De mais um crime que não cometi

desde a última noite passada...


É mais um gato consumado

Que a piedade esconde suas cartas

até que caiam todas no chão...


A motocicleta derrapou na pista

Feita entre fileiras de brancas nuvens

feitas com colares de contas...


Dezembros são apenas mais

Um dos janeiros que possuem preguiça

mas mesmo assim chegam...


O carpete cobre ali na frente

Enquanto pássaros azuis ciscam

numa placidez inexistente...


Quando perguntam o enigma

Eu apenas olho pra o outro lado

e simplesmente respondo: nada...

Carliniana XLIII (Claros Labirintos)

Sem um sudário algum

Pobre espectro perdido na noite

(Quando o silêncio é companhia

para qualquer solidão)...

Perfume sequer tem aí

Nada tão difícil como a facilidade

(Gregos e troianos num carnaval

cujo tema é o luto)...

Nada para comermos

Enquanto o costume entortou bocas

(E os espelhos nada respondem

por não entender nosso idioma)...

Cada trago do cigarro

É como um dragão feito ao avesso

(E a minha esperança raivosa

acaba atrapalhando meu vão sono)...

Toda moralidade imoral

Como um poltergeist mais vulgar

(E o medo apenas tem medo

de ser a próxima piada do dia)...

Toda moeda uma lâmina

Falar de amor não é para ninguém

(O rato não roeu nenhuma roupa

porque o rei estava somente nu)...

Todo pecado à granel

O filme mudo começou a discursar

(Eu engoli as cores de uma só vez

para geral desmaio das opacas nuvens)...

A proibição aguça a vontade

Como um cachimbo de ópio vazio

(A dúvida é agora solene e clamada

aos oito cantos deste miserável mundo)...

Limpei o dicionário com a bunda

Orei para ser expulso desta vil escola

(A regra mais clara que pode existir

é que não exista mais regra alguma)...

Esta dor involuntária

É apenas amostra grátis deste vício

(Consequência natural de estranheza

que só heróis e vilões conhecem)...

Vão me crescer asas

Mesmo que sejam apenas de papelão

(A alegria não sabe escolher

e acabou escolhendo qualquer coisa)...

Meus delírios têm passaporte

Cada vez mais é tudo cada vez menos

(Todo começo custa apenas um final

enquanto apagam-se as teclas do piano)...

Não! Não! Não! Não! E não!

Gritava o novo profeta sem pergunta alguma...

sábado, 11 de maio de 2024

A Arte de Não Saber (Miniconto)

Ele (ou ela) nada sabiam (?), apenas o que lhe diziam, que lhe ensinavam, que lhe impunham como verdade. E o que é verdade? Apenas um nada, um cisco, um grão. Até o que pode estar numa parede ou num papel velho trazido pelo vento, na rua. Viver é poder abrir os olhos, morrer é não poder mais abri-los...

Carliniana XLV (Indissolúvel)

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