Eu surto
O meu tempo é curto
Acordo toda manhã
Nessa vida vã
Eu choro
E te imploro
Não me bata
Nem me mata
Já é castigo
Deu estar comigo
Ser um e ser dois
Agora e depois
De não querer falar
Sorrir e andar
Ficar dias num canto
No entanto
Não queria que fosse assim
Pobre de mim
Que a porta abrisse
Que o véu caísse
Tudo tão claro
Mas é tão raro
Nem o remédio adianta
A ânsia é tanta
Não tenho culpa
Peço desculpa
Num tempo que não medi
Cheguei aqui
Não reconhecia nada
A mente parada
E vozes lá fora
Quero ir embora
Mas não me escutaram
E me drogaram
Logo de início
Este é o ofício
Na existe culpado
Pra esse estado
Não queria agredir ninguém
Tá tudo bem
E teve aquela passagem
Pela triagem
Aí teve aquela visita
Coisa esquisita
Não tinha nenhum conhecido
Tinha esquecido
Até quem eu sou
Onde estou?
Agora às vezes apaga tudo
E fico mudo
E surto
O meu tempo é curto...
(Extraído do livro "Poemas de Um Louco" de Carlinhos de Almeida)
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