Silêncio! Não façam barulho, estou dormindo e não quero acordar. Mesmo escutando de longe o som que está em minha volta, prefiro não abrir os olhos. Tento em vão manter o sonho e quem sabe ter o final feliz.
Muito tempo atrás, quando aqui dentro restava algo de doce, eu não queria dormir. Devia ser para que o tempo passasse depressa. Hoje, me arrependo de ter vivido cada minuto.
Silêncio! Parem de conversar, estou calado e não quero falar. Mesmo achando que acho, hoje penso que as coisas são como são e mais cedo ou mais tarde velhos erros serão consertados. Tento em vão ler claramente os enigmas que me feriram, mas não me mataram.
Muito tempo atrás, quando em meus olhos havia outras cores menos mortas, eu queria ver tudo. Devia ser para entender o que não se entende. Hoje só quero sentir se ainda posso.
Silêncio! Não cantem, não riam, esperem que eu já não mais escute. Mesmo enquanto estou aqui, na verdade já parti faz muito tempo, junto com aquilo que já foi meu. Não sou mais morador, sou um hóspede; não represento, só estou na platéia.
Muito tempo atrás, quando valia a pena, quando valia a lida, talvez eu declarasse meu amor. Muito tempo atrás, quando eu ainda não me conformava com a dor, quando eu chorava pelos cantos, talvez ainda risse com a cara no muro. Mas hoje não. Muito tempo atrás, eu talvez lutasse pelo teu beijo, eu lutasse por invadir a tua vida e fazer parte do teu mundo, mesmo em versos feios e banais. Mas isso acabou.
Silêncio! Silêncio! Não façam barulho, é costume não incomodar os mortos...
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