Não há marcas novas em meu corpo. Por falta de espaço, por falta de lugar. As que tive, foram suficientes. As guardo comigo como jóias raras e serão levadas para a minha eternidade.
Não me culpe por isso. Não as quis, não as provoquei, foi o mundo e aqueles que encontrei pelo caminho que as fizeram. Não as quis, não as alimentei, foram os sonhos que apareceram para que não se realizassem e ficasse eu assim. Não as quis, até tentei tirá-las de mim. Mas este tipo de coisa quanto mais se tenta, mais fica; quanto mais se foge dele, mas nos persegue como nossa sombra que conosco acelera seu passo.
Não há marcas novas no meu corpo. Cada uma delas diz algo e quanto mais isso acontece, antigas cicatrizes se transformam em feridas. Cada uma delas grita algo e quanto mais tentamos, nossos pesadelos se tornam mais vivos e mais reais.
Como numa tela vejo cada coisa que já aconteceu. Sua nitidez depende às vezes do tempo, mas sua presença é independente de qualquer coisa. Como numa foto está tudo paralisado. E cada vez que olho não tenho mais certeza de nada a não ser de uma: sou um triste.
Vocês, que se dizem alegres e se dizem felizes, por favor, não me recriminem, também queria ser assim. Vocês que conheceram lugares, conquistaram sonhos, que tiveram motivos para agradecer não me recriminem, tudo isso já tentei e foi em vão.
É chegada a minha hora. De tentar dormir o sono que não tenho. De virar as costas e ir embora. Quem sabe? Talvez num outro país que não conheço, num tempo que não prevejo, ainda há alguma esperança ressurgida das cinzas mesmo depois da última morte, esperando por nós, nós que marcados somos para sofrer e morrer...
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