Nunca foi como antes
Quixote matou Cervantes
A mentira verdade se tornou
O castelo desmoronou
Suas paredes eram de papel
O inferno junto ao céu
A fome e a fartura unidas
Teimosias vencidas
Tão antiga quanto agora
Um relógio sem hora
O destino simples plágio
Temos medo do contágio
Morremos quais moscas
Entre pinturas tão toscas
A verdade elogia a mentira
Minha calma é ira
É um coral de desesperados
De heróis desempregados
Apenas um mal crônico
Só canto se estou afônico
Vou rindo estou triste
Só o concreto inexiste
A morte é meu parente
Acabou de cair o dente
A droga não deu barato
O gato desistiu do rato
Escutem minha surdez
Matraga sem hora e vez
Cada um é babaca
No seu passeio de maca
Uma poesia barata
Que só me maltrata
O tesão agora é religioso
Ter moral é litigioso
Nosso barco está furado
Nada pior que ser desamado
Qualquer sonho é pesadelo
Nosso descuido é zelo
Vamos ver novos comerciais
Não menos e nem mais
Nunca foi como antes
Somos mortos ambulantes...
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