quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 120

Relógio de pulso com pressa. O tempo acaba se atrasando em suas tarefas como um menino distraído. A ação da gravidade que o diga. Tudo acaba doendo até um pouco mais. A ternura acaba doendo também sua parte. É meio que estranhos nos vejamos ainda humanos, há tantas máquinas dormindo ao nosso lado...


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Qualquer nome é nome. Na excentricidade relativa de um olhar. Feio ou bonito. Comum ou incomum. Carregamos em todos os nossos momentos (mesmo que outro surja pelo caminho) até que cesse a respiração, os olhos fechem e uma solidão maior comece. Como um bicho de pelúcia jogado fora. As idades mudam certas nuances, assim como os lugares. Quase não há cores e nem status. Eu gosto de ser o que sou. Ganhei esse nome de filho da puta. Qualquer nome é nome...


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Era talvez ternura ou não. E aquele grande pôster preto-e-branco na antiga sala. O tempo mata tudo, até o que permanece vivo, mas não é mais o mesmo. Sandálias franciscanas em claros pés. Sorriso fácil como não se tem mais. Eis o mascate nos cobrando no portão inesquecíveis prestações. Hoje certamente os que vieram depois nunca lhe conheceram.


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Descubro cada poesia como quem encontra um estranho na rua, esse estranho nos cumprimenta, nos reconhece sem que saibamos quem é. A minha mente é como um lago que desconhece milhares de pedrinhas que nele foram jogadas, muitos dias acabam dando nisso. É consequência inevitável essa mistura de opostos que fazem o que somos. Quisera eu saber decoradamente cada um dos meus versos, cada nuance, cada jogo, enfim, cada intenção que possui um dia. A inocência e a malícia jogam intermináveis partidas de xadrez e olha que me esqueci como joga faz tempo...


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Pelas luzes se acenderem, mais escuro fica. A clareza de certos enigmas nos leva ao chão. Achei fragmentos no chão de algo que desconheço sua origem. Repetimos mesmo quando não o queremos. O que um dia supliquei, hoje nem mais enxergo. Faço-me de surdo feito certos comerciantes mesquinhos ante o pedido de desconto de fregueses miseráveis. Os sonhos são assim. Se a orquestra começou, minha surdez também. Quanto mais luz, mais inutilidade de minhas pupilas. Minha vulgaridade foi a única tábua que restou neste naufrágio. Enquanto alguns falam para as multidões, eu falo aos bêbados que já dormiram sentados com a baba escorrendo no canto da boca...


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Nada é mais triste do que a lucidez de estar triste. Descobri isso da pior forma possível - andando por sombrios e tumultuados corredores do hospital público onde mamãe morreu. Uma cadeira de rodas com encosto incômodo projetada para se sofrer mais. Duas médicas recém-formadas com estranho ar de inocência e virgindade inexistente. - O que aconteceu? E eu pacientemente explico que meu voo acabou falhando dessa vez.


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Amanhã - nosso crucificado por flechas novamente será comemorado em sua anual dor. Estende teus braços de Janeiro nos janeiros mais ou menos quentes, nosso medo esteticamente perfeito agradece. Prometemos a embriaguez de quem ri por tudo e por quase nada. Negros e pobres e mulheres e gays e crianças e velhos e bichos subiremos aos patíbulos sorrindo de aliviada aflição. Amanhã - nosso crucificado por flechas novamente olhará impassível o esgoto andando lentamente na via pública...


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