sábado, 22 de janeiro de 2022

Na Hora Certa


Talvez a morte, canto derradeiro, entre tantas inutilidades guardadas em empoeirada gaveta, perdida chave de algum tempo que até doeu e agora não dói mais...

A falha certeira, o menino errou em suas primeiras letras, os primeiros passos foram o tombo, chamem logo o analista, eu mesmo já me convenci que a tristeza é quase normal...

A cerveja quase quente, o mergulho da mosca, fatalidades sempre acontecem, o tempo se atrasa em frente ao espelho, mas toda semelhança acaba sendo um pouco engraçada...

Em lugar nenhum várias poses, momentos esquecidos, cadáveres de insetos, quantos mais lembrados, mais torturantes, os exageros da moda de braços dados com o ridículo enquanto o obsoleto chama do fim da rua...

Qualquer motivo agora é motivo algum, as fileiras de dominó fazem o seu papel, não há mais sossego para as pedras, acabou passando isso no telejornal de ontem, esquecemos as novidades e o banal agora nos assusta com mais vontade...

Fiz uma canção desprovida de estética, cacofônica até, assim está meu coração pela apatia dos que caminham sobre o mundo, não me convencerão mais velhos textos que tentam provar o contrário, esta é é a índole do pior dos bichos do ecossistema...

Posso demonstrar minha loucura quando melhor me aprouver, a nudez de minha alma, pareço agora um rio que limpo ou não continua seu curso, o mar é o destino final da gravidade que Newton viu com uma maçã, a lógica acaba nos apunhalando pelas costas qualquer dia desses...

Não me olho no espelho com a velha assiduidade de antes, já basta o martírio de todos os dias, é melhor me desconhecer por algumas horas, posso me enganar achando que cada dia vivo mais, tudo acaba me contradizendo da forma mais sutil possível...

Talvez a morte, canto derradeiro, em sua hora certa, seja o fim de todas as ilusões... 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 120

Relógio de pulso com pressa. O tempo acaba se atrasando em suas tarefas como um menino distraído. A ação da gravidade que o diga. Tudo acaba doendo até um pouco mais. A ternura acaba doendo também sua parte. É meio que estranhos nos vejamos ainda humanos, há tantas máquinas dormindo ao nosso lado...


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Qualquer nome é nome. Na excentricidade relativa de um olhar. Feio ou bonito. Comum ou incomum. Carregamos em todos os nossos momentos (mesmo que outro surja pelo caminho) até que cesse a respiração, os olhos fechem e uma solidão maior comece. Como um bicho de pelúcia jogado fora. As idades mudam certas nuances, assim como os lugares. Quase não há cores e nem status. Eu gosto de ser o que sou. Ganhei esse nome de filho da puta. Qualquer nome é nome...


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Era talvez ternura ou não. E aquele grande pôster preto-e-branco na antiga sala. O tempo mata tudo, até o que permanece vivo, mas não é mais o mesmo. Sandálias franciscanas em claros pés. Sorriso fácil como não se tem mais. Eis o mascate nos cobrando no portão inesquecíveis prestações. Hoje certamente os que vieram depois nunca lhe conheceram.


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Descubro cada poesia como quem encontra um estranho na rua, esse estranho nos cumprimenta, nos reconhece sem que saibamos quem é. A minha mente é como um lago que desconhece milhares de pedrinhas que nele foram jogadas, muitos dias acabam dando nisso. É consequência inevitável essa mistura de opostos que fazem o que somos. Quisera eu saber decoradamente cada um dos meus versos, cada nuance, cada jogo, enfim, cada intenção que possui um dia. A inocência e a malícia jogam intermináveis partidas de xadrez e olha que me esqueci como joga faz tempo...


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Pelas luzes se acenderem, mais escuro fica. A clareza de certos enigmas nos leva ao chão. Achei fragmentos no chão de algo que desconheço sua origem. Repetimos mesmo quando não o queremos. O que um dia supliquei, hoje nem mais enxergo. Faço-me de surdo feito certos comerciantes mesquinhos ante o pedido de desconto de fregueses miseráveis. Os sonhos são assim. Se a orquestra começou, minha surdez também. Quanto mais luz, mais inutilidade de minhas pupilas. Minha vulgaridade foi a única tábua que restou neste naufrágio. Enquanto alguns falam para as multidões, eu falo aos bêbados que já dormiram sentados com a baba escorrendo no canto da boca...


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Nada é mais triste do que a lucidez de estar triste. Descobri isso da pior forma possível - andando por sombrios e tumultuados corredores do hospital público onde mamãe morreu. Uma cadeira de rodas com encosto incômodo projetada para se sofrer mais. Duas médicas recém-formadas com estranho ar de inocência e virgindade inexistente. - O que aconteceu? E eu pacientemente explico que meu voo acabou falhando dessa vez.


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Amanhã - nosso crucificado por flechas novamente será comemorado em sua anual dor. Estende teus braços de Janeiro nos janeiros mais ou menos quentes, nosso medo esteticamente perfeito agradece. Prometemos a embriaguez de quem ri por tudo e por quase nada. Negros e pobres e mulheres e gays e crianças e velhos e bichos subiremos aos patíbulos sorrindo de aliviada aflição. Amanhã - nosso crucificado por flechas novamente olhará impassível o esgoto andando lentamente na via pública...


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sábado, 15 de janeiro de 2022

Do Nunca Ao Nada

 

Nunca foi como antes

Quixote matou Cervantes

A mentira verdade se tornou

O castelo desmoronou

Suas paredes eram de papel

O inferno junto ao céu

A fome e a fartura unidas

Teimosias vencidas


Tão antiga quanto agora

Um relógio sem hora

O destino simples plágio

Temos medo do contágio

Morremos quais moscas

Entre pinturas tão toscas

A verdade elogia a mentira

Minha calma é ira


É um coral de desesperados

De heróis desempregados

Apenas um mal crônico

Só canto se estou afônico

Vou rindo estou triste

Só o concreto inexiste

A morte é meu parente

Acabou de cair o dente


A droga não deu barato

O gato desistiu do rato

Escutem minha surdez

Matraga sem hora e vez

Cada um é babaca

No seu passeio de maca

Uma poesia barata

Que só me maltrata


O tesão agora é religioso

Ter moral é litigioso

Nosso barco está furado

Nada pior que ser desamado

Qualquer sonho é pesadelo

Nosso descuido é zelo

Vamos ver novos comerciais

Não menos e nem mais


Nunca foi como antes

Somos mortos ambulantes...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Não Há Mais Nada Na Lâmpada

 

Nada mais em volta...

Sem sua agonia estonteante

Em matar os seus eventuais perseguidores da luz...

Agonia surda

De um calor mais que artificial...

Companheira de muitas ruas

Com algum perigo assim procurado...

Sem poesia alguma

Somente meu delírio sem droga alguma

Apenas povoado 

Das mais reles das fantasias...

O que era agora não mais é...

Nem sempre deixamos de tropeçar...

E uma metamorfose sem Kafka

Poderá fazer fervilhar calçadas

Num pedaço de cidade qualquer...

Estou quase ansioso

Por um amor barato

Que até pode acontecer...

Eis aqui os condenados sem cadeia

E com carrascos de férias...

Urina... Lixo... Mais urina...

E a tardia compreensão

De que nada pode ser apenas nada...

Eu escorrego em mim mesmo

E acabo rasgando minha fantasia...

Nada mais em volta...

Todas as asas falharam

Numa antiquada modernidade

Mais ofensiva

Do que qualquer palavrão...

A cara da beleza

Se tornou tão feia...

E tudo é um passatempo inútil...

Xô poetas!

Só restou a mediocridade

E nada mais em torno da luz...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 119

 

Caiu o teto

não há mais afeto

só há apatia

morreu empatia

As dores ficam

Os passarinhos bicam

na sua cacofonia

Morreu o dia...


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Tudo inventado, quase tudo pelo menos, menos a alma, que cambaleia sem lógica até o abismo. Tudo requentado, o dia do prato foi ontem, hoje o gosto nunca será o mesmo. Vamos ao extremo, a sujeira da vida nos parece agradável, mas nunca foi. Todos os defeitos merecem palmas, há uma grande psicologia para os tolos e para os bufões também. Eu espalho milho aos pombos dos meus versos e escolho lugares-comuns sem medo algum de vaias. Caprichem em seus palavrões, pois as palavras já são minhas...


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Vamos tomar um café

esqueçamos a morte por enquanto

toda tristeza acaba se acabando

assim como a alegria e o meio-termo

até os dias quentes acabam possuindo

algum frio entre os seus dedos

Vamos tomar um café

não engulamos o nosso afeto de uma vez

saboreemos a ternura devagarinho

essa acabou de sair do forno

ela é a única tábua que restou

nesse naufrágio chamado vida

Vamos tomar um café...


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Desculpe, não pude resistir, chamei o sonho para podermos caminhar, ele acabou gostando, eu também, agora não vivemos um sem o outro. Desculpe, não consegui evitar, a máscara colou na pele do meu rosto, seu sorriso, mesmo que patético, continua no mesmo lugar, disfarça todos os meus choros. Desculpe, não quis me esforçar, eu fui um cúmplice do dia, deixei que o sol queimasse minha cara, os desertos agora não me importam, tudo se acaba, até meu medo se acabou...


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Tesouras - soldados no front do velho menino

Folhas em branco - simples campos de batalha

Eu pego os tiros das cores e faço delas um épico

Lindos haicais sem palavra alguma

A Mona Lisa permanece silenciosa por séculos

Mas seus gritos ecoam por milhares de ouvidos...


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Não sabia praticamente nada

Somente os sons da estrada

Um silêncio quase inventado

O vento vem vindo de que lado?


Só queria praticamente tudo

Queria o mais alto grito do mudo

A pintura de quem não enxerga

O grande não de quem não nega 


Não sabia retoricamente nada

Os gritos ecoando na madrugada

O profano como quase sagrado

O vento vem vindo de que lado?


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Não tenha dúvida de ter dúvidas, cogito, mesmo aflito. Não esqueça o riso num canto, coisas boas também partem. Beba logo toda água, a evaporação faz parte da trama. Há teias de aranha em todas os nuances. A moda acabou errando de endereço. O menino repetiu o refrigerante, isso foi perdido entre muitos e muitos novelos.


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sábado, 8 de janeiro de 2022

Acabou... (Um Poema Niilista)

 Acabou o dinheiro

Acabou a comida

Acabou o gás

Acabou o motivo de se sonhar qualquer coisa, mentiras piedosas são mais do que dispensáveis, um vento fraco e malvado come as nossas entranhas...

Acabou o amor

Acabou a festa

Acabou o ar

Os que possuem não possuem piedade, que as bombas caiam sobre as cidades, que as doenças matem mais depressa, que os governantes desgovernem cada vez mais...

Acabou o sentido

Acabou a razão

Acabou a vontade

Invisíveis abismos são pulados diariamente, os tetos dos lares vão parar no chão, o bêbado dorme tranquilamente de cara na mesa do bar enquanto a mosca pousa...

Acabou a fantasia

Acabou o tesão

Acabou a vontade

A bailarina errou os passos da dança, tropeçou e foi ao chão, este estava molhado de lágrimas, as mesmas lágrimas que caem todos os dias por algum motivo ou não...

Acabou as vagas

Acabou as pragas

Acabou o motivo

O monstro não tem mais lagoa, tudo agora é apenas confusão, as leis gostam de descumprir leis, os fantasmas saem correndo com medo do nosso próprio medo...

Acabou a memória

Acabou a história

Acabou os heróis

Num ato extremo de covardia nasceu a coragem, a insônia eterna dos mortos traz desassossego, qualquer brincadeira é um negócio bem sério mesmo sem parecer...

Acabou o senso

Acabou a voz

Acabou o extremo

Vamos engolindo as esperanças como famintos que somos, nossa rotina traz inusitadas surpresas, com serenidade nossas desgraças acontecem, não importa se bem ou mal...

Acabou o ser

Acabou o nada

Acabou o final...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 118


Papel escondido, de natureza desconhecida, engolido pelo tempo, transformado em teclas endurecidas, depois programadas, por último quase fictícias. Herdeiro de ruas, de concepções absurdas, de impressões passageiras, parecidas com qualquer mal-estar. A bebida que não bebi, a droga que não usei e que me faz tão mal ou até um pouco mais. Fique aí parado, esperando o que pode vir ou não...


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Alguns enfeitam, 

outros não,

eu não faço coisa alguma,

só falo do que senti

mesmo se isso me escapa

de duvidosos dedos...

Alguns são aplaudidos,

outros pedem vaias,

eu subi no palco em silêncio,

quando não havia vivalma,

como quem chega propositadamente

em qualquer fim de festa...


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Já faz tempo, ih, bota tempo nisso. Escutei essa afirmação algumas centenas de vezes, não apenas dezenas, quem sabe chegaram a milhar, pois? Nestes dias de céus feios, se é que podemos confundir tristeza com falta de beleza, cheios daquele cinza pesado que certamente ninguém escolheu. Qual afirmação? Essa: - menino, os bem-te-vis chamam chuva. Será mesmo que trazem águas bem de longe?...


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Cada morto no front

com bolsos cheios

de dúbias recordações,

tarefas não-feitas,

compromissos adiados,

planos falidos,

desencontros marcados,

desamores corrompidos...

Cada carne na máquina

com uma crueldade

cheia de indiferenças,

pactos descumpridos,

decepções irritantes,

histórias fakes,

corrupção ativa,

um feliz ano novo...


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É como aquela fábula: a tartaruga e a lebre. A tartaruga é o tempo, achar que ele é lento é apenas um engano. A vida é feita de tempo. Quando percebemos já foi embora. A tartaruga sempre tem sua pressa. A lebre é o sonho. Quando menos se pensa - ele perdeu a corrida. Não existem resultados garantidos, as probabilidades riem de nós. É como aquela fábula: a tartaruga e a lebre...


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Papel de bala

Papel-moeda

E quantos lírios couberem em meus bolsos

A vanguarda dos miseráveis pede passagem

Num nom-sense alcoólico e canabítico

Te amo

Te detesto

Por todos os demônios que já adestrei

Os pecados que cometi com certa lucidez

Eu só tenho alguma certeza do nada...


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Ele quase sabia que o tempo veio com pressa de partir. E que a tinta das canetas coloridas secariam. Todo papel sempre amarela. E até o menino de ontem fechou os seus olhos. Toda distância é um doloroso engano. Ele quase sabia que as tentativas são estranhos que não respondem aos nossos mais educados bons-dias. Consumatum est. Não deitamos mais em esteiras já tem um certo tempo. Eu um dia quase gostei de alguma chuva, alguns frios também. Eu quase sabia...


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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...