sábado, 31 de janeiro de 2015

Para A Merda


Merda suja que fede coisa fedorenta
Cheiro que incomoda ninguém aguenta
Resto do resto que do que se mede
Merda suja é o que mais se fede
Não tens culpa de ser apenas o fim
Que começou na boca começou em mim
Merda que seca morta sem ter idade
Nunca maior que a própria sociedade
Dos homens que a fazem à todo momento
Merda fezes bosta ou simples excremento
Merda da guerra que sai tudo matando
Dos que nada possuem e ficam esperando
Numa fila de espera sempre interminável
Merda de moda de novidade de descartável
Do que eu tenho no bolso tenho na conta
Merda do destino que sempre vem e apronta
De um bom resultado sem ter um final
Das cartas marcadas do jogo e do festival
Merda que é ofensa merda que é elogio
Poesia moderna dona de um grande vazio
Coisa que vemos todos os dias na tela da TV
Coisas que acontecem entre eu e entre você
Merda tudo que seja abaixo dentro das fossas
Merda aquilo que não deu certo falidas bossas
Ruído sussurro chiado das mais falidas sintonias
Mau cheiro que vem perseguindo nossos dias
Merda suja que fede coisa fedorenta
Cheiro de resto de comida ninguém aguenta
Resto do resto que ninguém mais pede
Merda suja que faz medida é o que se mede...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Eu Vi e Eu Não Vi

Eu vi sonhos tão bem guardados jogados pelo chão de velhas calçadas. Eles choravam ao seu modo por saber que todos os sonhadores quando os perdem sofrem muito. Eram tão simples. Pois os verdadeiros sonhos são o mais simples possível. Complicadas são as humanas ambições que iludem as almas e as coloca em frente ao abismo.
Eu não vi nada que me trouxesse contentamento. Os sapatos já estão velhos e cheios de lama e poeira. Os ossos doem e as carnes entorpecidas estão. Músicas antigas e indecifráveis zoam nos ouvidos que tanto choro escutaram. Não há nada mais o que fazer senão esperar. Quando os tempos eram bons somente pareciam ser. Nada há fora do luto.
Eu vi muitos soldados enfileirados marchando para a morte. Debaixo de seus uniformes haviam homens e como homens tremiam como meninos que eram. As bombas caíam do alto em aviões com outros homens. Era a festa da crueldade mostrando tudo que escapou das mãos de Pandora. Era uma festa às avessas e a idiotice apontando para si mesma em altos brados. Eu sou a embriaguez que chegou as poucos e não quer ir mais embora.
Eu não vi o amor sincero. Nem senti nada que valesse a pena de guardar em minha alma. A minha alma é feita de corredores escuros que vão dar em nada. No sótão moram incontáveis aparições que bailam no meio da noite. E no porão estão enterrados todos os mortos que nem sei se morreram. E no jardim estão as flores que murcharam na ânsia de esperar quem as colhesse. 
Eu vi o sangue derramado pelos espinhos. O tapa dado sem qualquer compaixão. Meninos e meninas que vendiam a carne em troca da própria carne. Velhos que lamentavam um segundo perdido que significou tudo ou nada. Histórias de amor mal contadas e com finais inesperadamente infelizes. Não nos perguntem porque choramos. Faz parte do show a água e o sal em nosso roteiro. Somos o mar e não sabemos. A tempestade sempre nos aponta o dedo.
Eu não vi a ternura em gestos simples. Porque o ciúme envenenou todo ar e todas as más profecias aconteceram como cálculos perfeitos de um computador malvado. Há muita história para ser recontada. Mas todos os dados se perderam como as lantejoulas da velha fantasia que durou até o carnaval passado. A mente mente e realmente somente isso basta. O orgulho faz que escondamos os rasgos de nossas roupas com uma mortalha até pior. Insondáveis enigmas na vulgaridade de todos os gestos.
Eu vi e eu não vi nada. Somente o negro das vestes e o falso choro das carpideiras que choravam por mim...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Fuga


Fugir... Fugir... Fugir...
Do que está prestes à cair...
Do prédio que sobe até o céu
Do novo crime novo escarcéu
Da nova moda que te come
Do veneno que vem matar a fome...

Fugir... Fugir... Fugir...

Da nova fera que está por vir...
Da vida que morre aos poucos
Do mundo um asilo de loucos
Da música que fala do que não pensa
Da regra que o crime compensa...

Fugir... Fugir.. Fugir...

Dos desmandos de um grão-vizir...
Do enredo de intermináveis papéis
Das muitas fazendas e seus coronéis
De tudo se afogando num mar de plástico
Do óbvio que vai se tornando fantástico...

Fugir... Fugir... Fugir...

Dos delírios de um falso carnaval
Da jura que usou nossa alma em aval
Da desatino do qual nunca pensamos
Dos erros aos quais nós nunca erramos
De toda moita de toda mata de toda festa
De onde bom é mau e mau que presta...

Fugir... Fugir... Fugir...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Insaneana Brasileira Número 63 - Entre Xales e Outros Panos

Ziquinha pegue lá as recordações. Tão todas na gaveta mais fechada possível minha boa. Algumas você pode ver e as outras nem com óculos novo que se colocou antonti. As coisas que foram simbora muitas vezes valem mais ainda. Muito mais que um bom chá num dia de frioragem quando os ossos estralam por causa de tanto tempo. Achou não? Ah! Olha direitinho estuprema de salada. Mia fia você ainda tem uns vintanos de vantagem sobre mim. Precura adireitinho que acha. Tempos bons aqueles... Tempos bons que nada! Os únicos tempos bons são aqueles que não vivemos. Aqueles que podiam ser bons nessa tal de estatística. Naqueles que nossos pés num colocaram nem mesmo um dedinho. Luz de querosena enchendo os nariz de fuligem. Casos de assombrações malinas fazendo um tuc-tuc apressadinho na caixa do peito. Olhos bem arregalados olhando o fundão da escuridão de alguns palmos. Uma paz que não existia. E os desenhos? De bicos de limão nunca vistos. De coxa de galinha trazendo o riso. E aqueles caixões misteriosos na sala com muito orgulho. E o rádio de madeira das infinitas novelas que fazem a cara molhar. Não havia maldade por certo porque não existiam tantas coisas no jogo. Os dias escureciam logo e também amanhecia bem antes... Nem se sabia nem quando nem como as coisas funcionavam. Era importante bolas de vidro para os moleques e pras molecas filhinhas que nunca viveram. Discos voadores de impulso. Palhaços sem graça que faziam rir. E um mundo inteiro quase que girando e girando feito um carrossel. Olhem o feliz elefante na corda bamba. O barco era vermelho. Rugas são para velhos e nós não somos Ziquinha. Até nossas tias são moças bonitas que acabaram de morrer... Traga um chá. A mente sofre de uns arrebites vez em quando. Mas é assim mesmo. Nem me lembro que dia é hoje. Mas era bonito o rapaz de terno azul-claro de linho que passou naquela rua muitas décadas passadas. É assim que funciona. O perto longe e o longe perto. E os cuspes secando no chão. Sim senhor. Temos mais que pressa. E é de bom tom não enjeitar nem as coisas que não gostamos. Castelinhos e casas de tijolos. Madeira boa e tinta meio que barata. E um vento meio que forte em hélices de metal. Tire o dedo daí. Os tons do branco ao preto vão chegando as poucos. Alguns menos centavos nosoutros bolsos. Bem diferente do que se esperava. Ordens e bandeiras enganosas. Tudo está bom enquanto está. Eu vejo visões que só eu mesmo. E ainda estou aqui enquanto estou. Mas nunca se sabe o que dirá o velho almanaque. Só sei falar minha língua nativa. E ainda existes várias circunstâncias circunstanciais. E o telefone não me atende... E o avião entrou em pane... 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Enfim Nós


Enfim nós...
Que passamos tanto tempo sós
Procurando um pelo outro no mundo
Desperdiçando cada um segundo
Numa procura mais desencontrada
Coração acelerado e mente acelerada
Até que tudo aconteça enfim
E a vida seja um grande jardim...

Enfim nós...

Que vivemos cortando os muitos nós
Das amarras que nos prendem tempo e espaço
Procurando um colo pro nosso cansaço
Uma boca que tenha somente o nosso beijo
Que inocência se misture com o desejo
Até que tudo aconteça enfim
E seja o amor pra você e pra mim...

Enfim nós...

E o nosso antes veio muito depois do após
De uma cidade à uma outra cidade perdida
Iremos aprender como vamos rir da vida
Como poderemos enterrar nossos mortos
E deixar uma luz acesa em cada um dos portos
Até que tudo aconteça enfim
Mas que a ternura possa continuar assim...

Enfim nós...

Que passamos os melhores momentos à sós
Procurando um pelo outro em cada segundo
Construindo de sonhos o nosso mundo
Numa procura cada vez mais procurada
Coração acelerado e a chuva na calçada
Até que tudo aconteça enfim
E a vida seja um grande jardim...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Insaneana Brasileira Número 62 - Tatibitates e Gaguejamentos


Nada do que pode ser lhe parece numa grande matemática do mundo. Nada do que é uma camuflagem protege das coisas que irão acontecer. Temos sons diferentes saindo de nossa boca e dúvidas que nos deixam sem paz. Em extremos as carpideiras bailam em canções alegres.
Nada do que pode ser lhe parece num enigma apresentado por uma Esfinge sem asas. Nada que o calor não traga e o frio não leve embora. Temos impressões trêmulas como mãos de velhos e estamos abandonados. Em extremos os coveiros plantam falidos planos.
Nada do que os ouvidos possa distinguir com precisão imediata de bom conhecedor. Nada que os passos no caminho possam dar as mais boas pegadas de precisão. Temos apenas motivos de um riso malvado e o mais disfarçado possível. Em extremos todos serão um dia os melhores pais possíveis.
Nada do que possa um deus observar e ser solidário com crueldade e limitada insensatez mais que só humana. Nada que o peso não possa revelar e ser duro e cruel. Temos os remédios que matam após terem eles mesmos inventado a doença. Em extremos as maquiagens disfarçam mais que as folhas caídas no chão.
Nada do que inscrições vadias e sem propósito algum em velhos muros já sujos. Nada que a festa que se acabou antes de seu próprio começo. Temos milhares de papéis rasgados que o menino desenhou desejando algo que não sabia nem o que era. Em extremos há um soluço na garganta que veio antes do choro.
Nada do que a falta de paz trouxe em fórmulas perdidas magicamente insanas. Nada mais que mais um gole não revele em pesadelos mais estranhos e talvez de um colorido absurdo. Temos milhares de milagres ocultos na rapidez insana do dia a dia.  Em extremos ocupamos campos minados para nosso divertimento.
Nada do que as invasões diária de nossos corpos pelos nossos fiéis inimigos. Nada mais que as exclamações do grande artista em abrigos imediatos para curtas viagens. Temos os maiores menores olhos que se podem usar em ocasiões propícias. Em extremos nadas que um dia brotarão como um chão propício.
Nada do que...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Lua do Silêncio


Lua muda lua quieta lua silenciosa
Que em noites cheias ainda goza
Goza como se fosse uma princesa
Lua inocente apenas a minha presa...

Lua muda lua silenciosa lua quieta

Que em noites cheias ainda afeta
Que vai tirando todo o meu tino
E acaba tornando em lobo o menino...

Lua quieta lua silenciosa lua muda

Que em noites cheias ainda ajuda
Os amantes que não têm caminho
É muito triste ter que ser sozinho...

Lua do meu silêncio não fique tão silenciosa...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Se Eu Soubesse de Tantos Números

Se eu soubesse de tantos números - contaria. Contaria todos eles. Quase todos os segundos que se fazem um dia. Contaria as chaves que nos prendem. E as portas que nos param. Os corredores que nos confundem. E a vida que se segue. Mesmo que seja em vão. Foram sóis de ontem. E tantas coisas bonitas que não existem mais. Tantas invenções agora obsoletas que revolucionariam o mundo. E mais um pouco. As fotos antigas me incomodam porque não estão mais lá. São um rosário na mão de uma velha senhora que arrebentou e as contas foram parar no chão.
Se eu soubesse de tantos números - contaria. Contaria todos eles. Sem medo algum. Porque o medo faz parte do banquete que nos servem. E a solidão é uma acompanhante fanática. E a tristeza é uma amante sem impor condições. Toda história merece ser recontada. Porque os detalhes foram perdidos. E as dificuldades são velhos andarilhos com sacos nas costas. E as dúvidas vão pulando e cantando ao nosso redor. A música é muito alta. E nós talvez já tenhamos nos visto antes.
Se eu soubesse de tantos números - contaria. Contaria todos eles. Desprovido de qualquer esperança. De que sobrem umas moedas em meus pobres bolsos. De que haja uma última piada pra poder rir. Uma festa inesperada. Uma fogueira que ainda não se apagou. Como há muitas em velhos acampamentos do ano passado. Este é o último copo! O último bar que está aberto na madrugada... As moscas pousando em minha bebida. E as estrelas lá por cima fazendo um lindo cobertor. Solenes declarações sem sentido soam pelo quieto ar.
Se eu soubesse de tantos números - contaria. Contaria todos eles. Com inumeráveis dedos de muitas e muitas mãos. Nunca sabendo onde vou parar. São ventos vindos de várias direções. E fumaças subindo com várias poses. São dragões brancos e acinzentados que sabem dançar. São heróis feitos de papel colorido que sabem voar. São o mundo todo criando vida. E as coisas inanimadas criando mil bocas e mais dois mil olhos. E quantas mãos e pés forem necessários. Tudo dança. Tudo espanta. Tudo brilha mesmo estando em seu túmulo. Nada está quieto. Nem a saudade que tortura nosso peito.
Se eu soubesse de tantos números - contaria. Contaria todos eles. Todos de uma só vez...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...