sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Cena Insólita N° 2

 

o vidro qu'eu roubei no cumprimento dos meus deveres

os teres que transformaram-se nos meus haveres

a solidão teve pena de mim e me fez companhia

eu risquei mais um fósforo pra iluminar o meu dia

um poeta vagabundo igual a qualquer outro bicho

usando palavras usadas que foram jogadas no lixo

um sapato velho que comprei na feira em Portugal

todo amor dá em nada mesmo quando seja desigual

quem constrói a cela acaba também morando nela

o destino entra pela porta mas a sorte pula a janela

tou cagando e andando pra qualquer autoajuda

não existe conselho que substitua deus-nos-acuda

o famoso sorri porque está enchendo seu bolso

o azar de todo velho é que um dia já foi um moço

Margarida era tão bela e entretanto nunca foi flor

esses erros são velhos são do tempo do meu avô

coma o arroz e o feijão deixe a carne pro final

nem é todo dia que eu amanheço feito um cara normal

borboletas azuis em rosas que até a cor já esqueci

não sei exatamente se sou daqui ou se sou Dali

peguei um copo e nem reparei o que era e fui engolindo

todo sonho por pior que seja é sempre bem vindo

todo o erro que cometemos acaba tendo perdão

possuo um último desejo na frente do meu pelotão

quero dançar até cair exausto sob a chuva pelado

esqueci de uma vez por todas qual é o meu lado

originariamente acabou o que um dia foi original

eu aprendi a soltar pipa mas só na hora do vendaval

mãe me perdoa se não pude fazer alguma coisa mais

eu me perdi no caminho e minh 'alma ficou lá atrás...

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