Tudo...
Nada...
Meu God, ainda existem tantas gavetas fechadas e a minha memória anda tão ruim. Isso sem falar na poeira acumulada de vãs prateleiras onde histórias se equilibram como cansados acrobatas. Todo show demora e aí, até a plateia cansou de esperar...
Tudo...
Nada...
Alguma frase perdida num banheiro ainda tenta em vão não morrer e essa tentativa é quase gêmea à um martírio qualquer. Os jornais não mostram mais necrológios porque agora, mais do que nunca, vamos morrendo numa produção em série. A operadora está fora de área, mas nem íamos telefonar...
Tudo...
Nada...
O sábio tenta nos ensinar alguma coisa enquanto nossa fisiologia gargalha bem alto atrapalhando sua palestra. Mãos estendidas o fazem por força do hábito, a apatia vence todos os páreos como sempre venceu. Os espelhos pouco se importam com qualquer deboche...
Tudo...
Nada...
Os botões dos mísseis estão ansiosos para serem apertados por sobre os inocentes. Camelôs esperam ansiosos por novidades, enquanto novos heróis reclamam por seus nomes em outdoors luminosos. Os palhaços repetem seus bordões quase imortais...
Tudo...
Nada...
Minhas cáries reclamam pelos doces que se perderam em algum pesadelo. Uma chuva malvada caiu de repente, molhando minha fantasia feita apenas de papel crepom. Eu prometo que nunca mais xingarei...
Tudo...
Nada...
Perguntas são dispensáveis porque nem respostas queremos mais. As serpentes agora sabem todos os passos da dança, assim como os camelos espantaram sua crônica tristeza. Meu último pedido é poder viver eternamente...
Tudo...
Nada...