quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Tudo ou Nada

Tudo...

Nada...

Meu God, ainda existem tantas gavetas fechadas e a minha memória anda tão ruim. Isso sem falar na poeira acumulada de vãs prateleiras onde histórias se equilibram como cansados acrobatas. Todo show demora e aí, até a plateia cansou de esperar...

Tudo...

Nada...

Alguma frase perdida num banheiro ainda tenta em vão não morrer e essa tentativa é quase gêmea à um martírio qualquer. Os jornais não mostram mais necrológios porque agora, mais do que nunca, vamos morrendo numa produção em série. A operadora está fora de área, mas nem íamos telefonar...

Tudo...

Nada...

O sábio tenta nos ensinar alguma coisa enquanto nossa fisiologia gargalha bem alto atrapalhando sua palestra. Mãos estendidas o fazem por força do hábito, a apatia vence todos os páreos como sempre venceu. Os espelhos pouco se importam com qualquer deboche...

Tudo...

Nada...

Os botões dos mísseis estão ansiosos para serem apertados por sobre os inocentes. Camelôs esperam ansiosos por novidades, enquanto novos heróis reclamam por seus nomes em outdoors luminosos. Os palhaços repetem seus bordões quase imortais...

Tudo...

Nada...

Minhas cáries reclamam pelos doces que se perderam em algum pesadelo. Uma chuva malvada caiu de repente, molhando minha fantasia feita apenas de papel crepom. Eu prometo que nunca mais xingarei...

Tudo...

Nada...

Perguntas são dispensáveis porque nem respostas queremos mais. As serpentes agora sabem todos os passos da dança, assim como os camelos espantaram sua crônica tristeza. Meu último pedido é poder viver eternamente...

Tudo...

Nada...


terça-feira, 16 de novembro de 2021

Fantoches


fantoches...

aqui estamos outra vez...

escravos submissos da alma ou do corpo...

sempre tanto faz...

presos aos gestos malfeitos

ou às palavras mal pronunciadas

aqui estamos...

perdemos o horário

e as festas se acabaram...

não observamos as nuvens

a chuva caiu malvada

e as fogueiras se apagaram...

mamulengos...

numa grande feira - o mundo...

recontando a mesma história...

cheia de reticências...

nossa velha tecnologia...

os defeitos mais que especiais...

e as lâmpadas que queimam...

nossas regras é não existirem...

todo louco é pouco...

há idiotas discursando...

enquanto as catiras

espantam os insetos...

títeres...

nos limites do ilimitável...

onde iremos parar?...

um questionário sem respostas...

um grande banquete de fome...

grandes e dispensáveis adereços...

apenas isso...

nada mais...

dança de mancos...

olhar o relógio de pulso...

não dá o impulso

para a flecha atirada...

bonequinhos...

o livre-arbítrio acorrentado...

necessidades trágicas...

contra a maré ou não...

apagadas impressões digitais...

enigmáticos epitáfios...

muitos pratos vazios...

e corações cheios

de vazios ainda maiores...

os poetas pedem socorro

querendo tábuas de salvação

neste mar de intranquilidade...

fantoches... 

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Cena Insólita N° 2

 

o vidro qu'eu roubei no cumprimento dos meus deveres

os teres que transformaram-se nos meus haveres

a solidão teve pena de mim e me fez companhia

eu risquei mais um fósforo pra iluminar o meu dia

um poeta vagabundo igual a qualquer outro bicho

usando palavras usadas que foram jogadas no lixo

um sapato velho que comprei na feira em Portugal

todo amor dá em nada mesmo quando seja desigual

quem constrói a cela acaba também morando nela

o destino entra pela porta mas a sorte pula a janela

tou cagando e andando pra qualquer autoajuda

não existe conselho que substitua deus-nos-acuda

o famoso sorri porque está enchendo seu bolso

o azar de todo velho é que um dia já foi um moço

Margarida era tão bela e entretanto nunca foi flor

esses erros são velhos são do tempo do meu avô

coma o arroz e o feijão deixe a carne pro final

nem é todo dia que eu amanheço feito um cara normal

borboletas azuis em rosas que até a cor já esqueci

não sei exatamente se sou daqui ou se sou Dali

peguei um copo e nem reparei o que era e fui engolindo

todo sonho por pior que seja é sempre bem vindo

todo o erro que cometemos acaba tendo perdão

possuo um último desejo na frente do meu pelotão

quero dançar até cair exausto sob a chuva pelado

esqueci de uma vez por todas qual é o meu lado

originariamente acabou o que um dia foi original

eu aprendi a soltar pipa mas só na hora do vendaval

mãe me perdoa se não pude fazer alguma coisa mais

eu me perdi no caminho e minh 'alma ficou lá atrás...

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Cena Insólita N° 1

cena não-cena

insólita-infeliz

tão grande e pequena

eu quis e não kiss

abraços mais mudos

amores fatais

morreram os tudos

lá pelas Gerais

passou e não passa

um dia ou até dois

fumaça ou pirraça

ou falo depois

tão lento qual luz

calado igual som

vestidos tão nus

o mal fica bom

inferno de anjos

hospício de sábios

eu quero arranjos

morar nesses lábios

boneca tão viva

putinha do baile

eu quero saliva

meu berro em Braile

café meu café

me mate cigarro

perdi minha fé

comprei o meu carro

só falta mais uma

os dois já matei

terceira é pluma

no sol me criei

com ojos eu via

não era o tal

eu bem que queria

morrer carnaval

é dia de festa 

favela sorriu

nada mais presta

primeiro de abril


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 7 de novembro de 2021

A Dança

A dança, a dança...

Tempestade, bonança...

Tão velho, criança...

E somos os pares nessa dança de São Guido

E como choramos sem sequer um gemido

Nossos passos estão agora paralisados

E velhas fotografias fomos imortalizados

A dança, dança...

Desespero, esperança...

Escapa, alcança...

E vamos festejando essa folia sem carnaval

No caminhão de lixo nossa entrada triunfal

Sobrou o corpo, mas não sobrou nossa alma

Estamos todos feridos, mas sem algum trauma

A dança, dança....

Espinho, lança...

Maternidade, matança...

Vamos sofrendo e só nos salva a nossa poesia

Enquanto escapamos das armadilhas do dia

Pois estamos cegos enquanto vemos tanto

Em cada riso está escondido mais um pranto

A dança, dança...

Pubiano, trança...

Exercita, cansa...

Nesse grande velório feito para nós os vivos

Vamos ganhando os mais estranhos adjetivos

Apenas um amontoado de alguns velhos erros

E acabaram esquecendo de nossos enterros

A dança, a dança...

Desespero, esperança...

Tão velho, criança...

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Insatisfação Garantida

Nas longas barbas do tempo

vi a areia escorrer da ampulheta

a internet caiu

e os games estão parados...

Pego as tintas que sobraram

de uma noite anterior qualquer

como quem se atrasou para o banquete

e até a música acabou...

Espero a solidão de braços abertos

como um crucificado às avessas

que desconhece até porque veio aqui

mas que tem medo de partir...

Repitam novamente a lição!

Eu não entendi nada

ando até desconhecendo as palavras

do meu idioma nativo...

Agora tanto faz arranha-céus ou montanhas

a imortalidade agarrou-me 

pelos meus escassos cabelos

e me fez jurar em seu nome...

Perdi todas as medidas

já que nenhuma delas adiantou

eu sou apenas mais uma sombra

quando muito eu sou...

O mundo lá fora continua o mesmo

com sua graça sem graça

com seus absurdos inquestionáveis

das palavras que eu já esqueci...

Um samba agora dá na mesma

quando o desespero chega

e meus bolsos estão vazios

e alguns chamam isso de normal...

Quando a fatalidade bater na porta

nem Caetano nos salvará

porque rios nunca param

e as luas adoram brincar...

Todo o tema se esgotou

assim como qualquer amor

onde um simples beijo de língua

não passa apenas disso...

Insatisfação garantida

ou sua alma de volta

o inferno já está lotado

e não há mais previsão de obras...

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Eles Dormem

 

Eles dormem...

Seu tempo já passou...

Não escutamos mais sua voz,

Mas sua boca não se calou,

Falam para todos nós

Em sua lembrança que ficou...


Eles dormem...

Sua jornada já se acabou...

Não vão chorar mais,

O sofrimento já cessou,

Não há mais guerra nem há paz,

Cada livro já se fechou...


Eles dormem...

Sua vida já terminou...

Outra vida então se inicia,

Uma vida sem choro e sem dor,

Sem noite e sem dia,

Que o relógio não maltratou...


Onde estão as cadeiras da calçada?

Continuam no mesmo lugar,

Só não as vemos mais...


Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...