domingo, 11 de março de 2012

Não Se Enganem, Senhores, Não Se Enganem


Não se enganem, senhores, não se enganem. Os versos que eu faço, não podem ser lidos com bons olhos, porque nunca virão da mente, mas do coração. E lá, senhores, habita um demônio que recusa em ser deus, desde muitas eras. E lá, senhores, habita um anjo que recusa ter asas, desde que sonhou. Ser ele for deus, não terá mais lágrimas que o inspire, e se tiver asas, seus pés não mais sangrarão.

Não se enganem, senhores, não se enganem. Nenhuma realidade pode ser vista com os olhos e nenhum sentimento pode ser expresso com palavras. A vida é um pesadelo que cada manhã começa e o desejo é um cão que te lambe as mãos. Não tenham pressa de nada, o tempo e o destino são irmãos gêmeos de mães diferentes.

Não se enganem, senhores, não se enganem. As flores são as únicas que não morrem. O som é mais sólido que as torres gêmeas. Os verdadeiros juízos se escondem atrás do vidro e mesmo que os veja, serão eles sempre distorcidos.

Não se enganem, senhores, não se enganem. Há muitas feridas que nunca cicatrizarão e isso é muito bom. Há muitas piadas que primam por seu mau-gosto e para isso nasceram. Há muitos versos mais violentes do que estes e em compensação mais ingênuos são. Tudo que tem um objetivo acaba, mas os dançarinos às vezes continuam festejando mesmo depois do fim da festa.

Não se enganem, senhores, não se enganem. Você que pediu o elixir da longa vida vai se arrepender. Você que assustou os pássaros beberá do mesmo sol. E você que ouve apenas palavras não moverá um músculo sequer. Você que quer os dedos perderá os anéis. E até a falta de rima será o invés.

Não se enganem, senhores, não se enganem. Porque há poesia, aí ela falta. Porque há expectativa, os cálculos todos falham. Porque hoje fiz o medo, amanhã ele mesmo será meu amigo. E todos, sem exceção alguma verão o fim de uma grande festa.

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