quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Na Cartola do Mágico


Naquele chapéu preto e alto eu via mais além. Eu via e queria ser mágico. Quase tanto quanto queria ser feliz. Não o via apenas como o homem que tira coelhos. Era ele o mágico, o senhor de destinos e coisas que brilham.
Eu queria ter bigode e cavanhaque como o dele. E queria ter uma capa como a sua. Uma capa que me protegesse contra a própria vida.
A vara do mágico era mágica. Com ela eu poderia voar e ver terras distantes. Com ela poderia fazer aparecer diamantes. Com ela poderia ser invisível. Poderia fazer o impossível. Quem sabe mais tarde – eu sabia já que existia a Morte, só não sabia que ela viria queira ou não – eu poderia fazer que os meus nunca fossem embora.
O charme do mágico era tudo. A linda mulher de vermelho que acompanhava seus números poderia ser minha. Com seu vestido vermelho e seu corpo escultural. Seus lábios sempre pintados e seu cabelo vindo até a cintura. O mágico não tinha olhos tortos, o mágico não tinha contas para pagar, o mágico sorria o tempo todo e não tinha tempo pra chorar.
A cartola do mágico era a minha meta, sua capa, sua vara de condão, deveria conter todos os meus segredos, deveria guardar para sempre todos os meus medos. Deveria ter tudo que um dia quiz, prender a tristeza que fez o menino tão infeliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...