Misture-se o sal ao sol, nele acrescente uma pitada de tempo e aí estarei eu lá. Como sempre foi, desde a primeira vez que não lembro.
Só sei que não lembro, mas sabia e sei e saberei que te amo mais que a própria vida, que era tão pouca quando quase me roubou.
É esse mesmo que agora, talvez um pouco mais novo e menos sujo, mas sempre o mesmo.
Foi assim:
Num dia quente mais do que todos, com muita gente, fomos nós dois. Meu pai, distraído conversava com duas mulheres e eu brincando vi o que nunca esqueci.
Havia o sol, havia o céu, mas antes deles dois havia uma outra coisa que nunca mais vi. Havia uma cortina transparente de água, um vidro azul claro e mau que queria me levar. E quase assim foi...
- É seu filho? – perguntou o salva-vidas entregando-me desmaiado.
Depois disso, fora as águas-vivas que me queimavam e que me faziam ir para a areia passar remédio e perder alguns minutos do banho, não posso reclamar do amor que ainda tenho.
Só que hoje te evito. Não sei por que, mas te evito. Deve ser que o velho peito (sobrecarregado para o menino que ainda teima de em mim viver) não procura as mesmas emoções que evocas em cada passo. Teu cheiro de mar e maresia, lembra tempos de férias e outras loucuras de mais adiante, que tenho ainda e teimo em me torturar ao lembrar.
O espinho não está mais no pé, mas a dor parece existir.
Mar, mar, mar, testemunha de outras coisas, de carnavais e passeios no parque, de visões noturnas de rodas-gigante, de trapaças e tramas dignas de novela, perdoa quando me afasto. Eu sempre volto, talvez como um dia voltarei em silêncio, talvez querendo os ares da Terra-do-Nunca que nunca terei.
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