terça-feira, 10 de novembro de 2009

Espaço

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Na primeira noite em que dormimos, eu não sei. Sei que o cansaço não vinha dos pés, mas do meu peito. Lá fora, um vento que presumo existia fazia um coro como as carpideiras de um antigo funeral, mas confesso que gostava. Como gostava de coisas e coisas que não percebia e que hoje fazem falta.
Doces comidos sentados numa calçada quando em visita, brigas de família resolvidas com e sem sutileza. Óculos e dores resolvidos no gás. E mais não sei que muito me valiam.
O menino era pequeno, o espaço era grande. Um espaço que distanciava o que não se podia medir e até hoje se torna em luta para poder descrever.
Como um avaro eu conto e reconto cada moeda. E me dou por feliz por não enlouquecer por demasia.
A casa que tínhamos era bem pequena. Mas era todo um mundo. No portal o mesmo Sagrado Coração de Jesus com seus misteriosos furos e depois da luz elétrica incontáveis pontos.
No quintal os três pés de coco, o da frente era do meu pai, o perto do poço era o meu e o outro da minha mãe. Perto do coqueiro do meu pai, parecia até coisa de livro, o pé de laranja lima que chorei quando acabou morrendo.
O poço que meu pai tirava água e quase perto a moenda de cana, debaixo da caixa d’água que não me lembro de ter sido cheia alguma vez.
A primeira casa era simples. Uma sala onde estava um rádio azul, o banheiro que abria para a sala e tinha o piso mais alto e quarto. Na sala um sofá azul que meu pai trouxe de Niterói e tempos depois a televisão preto e branca, que no dia de sua chegada, me lembro de ver o caminhão na nossa rua para trazê-la e vim correndo na frente para poder avisar. Aí, já era tempo de luz.
Depois disso, mudamos para uma pequena casa, em frente à escola, enquanto meu pai aumentava nossa casa. Era um tempo de frio e costumava dar mofo nas roupas que não secassem ao sol. Nesse tempo, via o Capitão Aza e sonhava com as incontáveis festas juninas que afinal foram uma ou duas nem me lembro bem.
Voltamos. E tu casa que não me pertence mais, mas que permanece fechada, tinhas crescido talvez mais que o menino. Ganhei um quarto onde também ganhei sustos. Havia agora uma sala maior e uma cozinha e um forro onde fui uma ou outra vez pela escada e confesso que senti medo. Como também senti quando tuas janelas se fecharam e a febre do sarampo quase me consumiu de vez.
Saímos de novo. E permaneceste vazia. E agora, já não mais na frente da escola, mas sim ao lado, vivi meus primeiros amores e desatentos. Nunca, nunca pequena casa, me senti tão mais pequeno do que eu era e nunca senti tanta saudade ao mesmo tempo. Saudade de ti, minha princesa, saudades de todos os meus amigos, saudade até do meu primeiro gesso, saudades suas primo e de nossas brigas, saudades de que mais foi ao vento.
Depois voltamos a nossa casa e depois de tua morte, pai, saímos de lá. Mas passados tantos tempos, ainda sonho que vives (ou vives mesmo?) e estamos lá no mesmo lugar esperando o final dos tempos...

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