sábado, 28 de abril de 2012

Cachaça


A cachaça que os poetas bebem é outra. Cachaça, aguardente, pinga, qualquer outro nome que queiras dar. Aquela que desce a garganta e que muitos usam, poetas ou não, há de ir embora em algum momento. Mas as dos poetas não. É uma dose única, que após ser bebida, há de dominar quem fez tal imprudência e nunca mais seu efeito passará.
Ela te embriaga a cada instante e todas as vezes que teus sonhos morrerem, serão ressuscitados para que teu tormento seja constante. Ela te embriaga a cada instante e todas as vezes que teus pés cansarem, colocará países em cada esquina e tua desistência será em vão. Ela te embriaga a cada instante e não adiantará os disfarces que porás em teus versos, cada festa terá seu choro, cada alegria duvidosa origem, cada doce um amargo em seu final.
Cuidado, amigo! Não a beba. Pensa duas vezes antes de engolir tão inocente dose.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Suave


Suave é o veneno que corre em minhas veias. E a mata os que bebem o meu sangue. Mas nunca me matou.
Eis que é forte veneno, tudo que se possa imaginar, mas assim mesmo, terno e sincero. Ele aponta o dedo e avisa. Que será o caminho de sonhos, mas o fim.
Suave é o veneno que escorre de minhas palavras. E conduz até escuridão que não possui volta. Elas colocarão os pés em labirintos sem volta e arrebentarão os cordões que conduzem até a saída e a volta para a luz. Será o caminho de prazeres, mas neles haverá também tédio.
Suave é o veneno que meus carinhos poderão dar. E esses carinhos serão o desespero de quem nunca os teve para si, a morte inesperada que sempre avisa e nunca chega. Não espere verdades de quem sempre sonha e nunca dorme, nem espere flores de quem o caminho nunca dá descanso.
Suave é o veneno das notas que nunca cantei, suave é o veneno da brisa que vem antes e nunca depois, suave é o veneno das lembranças que um hoje fazem rir e um dia fizeram chorar.
Suave é, ainda e sempre, veneno do demônio que habita em mim, calmo e sereno, chorando o amor que não me deste e um dia ele há de te devolver...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...