Um homem é um homem até que seja um rato
(Vamos dançar sobre um chão de cacos de vidro?)
Nada mais sobrou daquele dia que foi o ontem
Reza e blasfêmia usam os mesmos prato e copo
Num jardim de flores de cristal nasce a cicuta
Assim como são as pedras assim são os ventos
Só navego se for pelos alguns oceanos de nuvens
Acabo ficando sozinho mesmo se acompanhado
A vida não dá esmolas para ninguém nunca
Nerverland é um prato de comida para a miséria
Ao rei todas as sardinhas que estão nesta lata
O pregador foi aquele que colocou os pregos
Nada será mais o mesmo daquilo que nunca foi
Só existe happy end para aquele que se vende
As tentações de Wilde ainda permanecem aqui
A Grande Besta tirou uma selfie quase agorinha
Nunca seremos tão reciclados quanto o plástico
Há muitos santuários em botecos mais imundos
Felizes eram os carvões que queimavam de novo
Os rebanhos pastavam placidamente no front
Quase a metade do que sei é o aquilo que não sei
Óculos brancos e verdes nas mais antigas feiras
A desgraçada roubou a vaca e ainda devolveu
Todo susto cumprirá a sua meta mais primordial
Os olhos estão mais vermelhos do que o sangue
O pobre bambeia mas acaba caindo quase sempre
Nunca mais haverá discurso algum sem palavras
Numa escala de zero até zero claro que somos zero
Mocotó sem farinha pode fazer uma gastura
Pulei amarelinha com marcianos vindos da Ásia
Montei quebra-cabeças que faltavam as peças
O mais concreto abstrato que existirá é niilista
Encomendaram uma poesia e ele fez um epitáfio
Os canários agora são com a plumagem lilás
Colocamos pimenta na água só para disfarçar
Desenhe uma reta e faça dela uma torta de maçã
Os malvados é que ardem os pobres infernos
Quero voltar para um lugar que eu nunca estive
Tantas teias que possuem até vaga na garagem
Não abrir a porta significa alguma segurança
Ela vomitou em sua própria roupa e achou graça
Acho que estas paredes estão quase drogadas
Esses mosquitos estão todos enterrados nas covas
(Vamos dançar sobre um chão de cacos de vidro?)
Um homem é um homem até que seja um rato...
(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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