quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Paredes Drogadas

Um homem é um homem até que seja um rato

(Vamos dançar sobre um chão de cacos de vidro?)

Nada mais sobrou daquele dia que foi o ontem

Reza e blasfêmia usam os mesmos prato e copo

Num jardim de flores de cristal nasce a cicuta

Assim como são as pedras assim são os ventos

Só navego se for pelos alguns oceanos de nuvens

Acabo ficando sozinho mesmo se acompanhado

A vida não dá esmolas para ninguém nunca 

Nerverland é um prato de comida para a miséria

Ao rei todas as sardinhas que estão nesta lata

O pregador foi aquele que colocou os pregos

Nada será mais o mesmo daquilo que nunca foi

Só existe happy end para aquele que se vende

As tentações de Wilde ainda permanecem aqui 

A Grande Besta tirou uma selfie quase agorinha

Nunca seremos tão reciclados quanto o plástico

Há muitos santuários em botecos mais imundos

Felizes eram os carvões que queimavam de novo

Os rebanhos pastavam placidamente no front

Quase a metade do que sei é o aquilo que não sei

Óculos brancos e verdes nas mais antigas feiras

A desgraçada roubou a vaca e ainda devolveu

Todo susto cumprirá a sua meta mais primordial

Os olhos estão mais vermelhos do que o sangue

O pobre bambeia mas acaba caindo quase sempre

Nunca mais haverá discurso algum sem palavras

Numa escala de zero até zero claro que somos zero

Mocotó sem farinha pode fazer uma gastura

Pulei amarelinha com marcianos vindos da Ásia

Montei quebra-cabeças que faltavam as peças

O mais concreto abstrato que existirá é niilista

Encomendaram uma poesia e ele fez um epitáfio

Os canários agora são com a plumagem lilás

Colocamos pimenta na água só para disfarçar

Desenhe uma reta e faça dela uma torta de maçã

Os malvados é que ardem os pobres infernos

Quero voltar para um lugar que eu nunca estive

Tantas teias que possuem até vaga na garagem

Não abrir a porta significa alguma segurança

Ela vomitou em sua própria roupa e achou graça

Acho que estas paredes estão quase drogadas

Esses mosquitos estão todos enterrados nas covas

(Vamos dançar sobre um chão de cacos de vidro?)

Um homem é um homem até que seja um rato...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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