sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Lânguida Tempestade

Acender uma vela sem uma outra chama.

Em volta da fogueira não há nenhum cacique.

Melodramas antigos ainda em black&white.

Meu mandarim acordou com certa preguiça.

Maquiar a alma é tarefa que muitos fazem.

Foi declarada a guerra de bolinhas de gude.

A gata agora liberou que mamassem nela.

Numa escola vazia as lições são repetidas.

Os ventiladores agora decidiram ir voar.

Mais uma cachaça aqui para o andarilho.

Nuvens sólidas para amantes do nom sense.

O verdadeiro poeta sabe mastigar pedras.

O meu silêncio até grita bem mais alto.

Todas as contradições nasceram prontas.

As injeções que me aplicam não doem mais.

O cachimbo parou de entortar nossa boca.

Agora só marcamos gols que forem contra.

Quero fumar um cigarro no dia do Juízo.

Uma barata morta acabou pisando em mim.

O louco gritava impropérios no condomínio.

A realidade é mais fácil que pular amarelinha.

Só gosto de ficções científicas da Idade Média.

O charuto é charuto porque nasceu charuto.

Quem vai com sede ao pote acaba caindo.

Ali Babá não gosta mais dos cinquenta ladrões.

A baiana agora só vai vender churrasco grego.

Só os ponteiros do relógio suportam repetição.

Ao seu lado é que eu me sinto tão ao seu lado.

Todo motorista tem aquele seu lado contramão.

Uma tempestade viria se não fosse a preguiça...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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