segunda-feira, 27 de outubro de 2025

O Vento de Lá

Quero surgir do nada em nuvens de coisa alguma...

Eu não sou o general e nem tenho banda alguma...

Caminhante de coisa alguma sem usar muletas...

Essa minha indecisão é mais um cavalo sem asas...

Anotei todas as tristezas com uma caneta quebrada...

Arranhei paredes com o mais puro de todos deleites...

Essa brisa mansa traz todos os enigmas possíveis...

Faça chuva ou faça sol é tudo aquilo que eu quero...

Cataventos de todas as cores e lençóis bem macios...

Mais uma lata de cerveja para todos comemorantes...

Coleções de chaveiros para todos os que éramos...

Eu usei tamancos de madeira e pingentes brilhantes...

Tive caixinhas de segredo que me valeram tanto mais...

Eram dias de suspensórios e óculos que eu usei antes...

Eu nunca quererei ser o pó por simples antecipação...

As palavras são amigas que me sobraram da guerra...

Dores só ensinam a arte da rebeldia e o ofício do choro...

Programas que já esqueci ainda continuam na mente...

Os pássaros cantarão com o seu trabalho de rotina...

Cada frase é um peixe que foi pescado com as mãos...

Só o desconhecido me conhecerá com toda a certeza...

Nas minhas bruxarias carrego as melhores intenções...

As ressacas das segundas foram os triunfos das sextas...

Proibiram os realejos mas nunca os seus encantos...

A minha espada de brinquedo sempre foi o que era...

Chá com biscoitos para nossa próxima ressurreição...

Levantei com muito sono do meu caixão de morto-vivo...

Mais uma ciranda é o que nosso peito assim precisa...

Posso sentir o vento que vem de lá sempre e sempre...

Mas acho que isso nunca me importou alguma vez...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

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