quarta-feira, 21 de maio de 2025

Carliniana LXXXIV ( Passos de Um Cão Sem Pernas )

Acordo todas as manhãs sem ao menos dormir,

A vida é um pesadelo mesmo se não há sustos,

A minha coragem é feita de pequenos gestos,

Dilaceram-me as carnes sem ao mesmo senti-lo...

Lembro-me de tão pequenos e cruéis absurdos,

Necessidades básicas tornadas feios fantasmas,

Velas que um simples sopro acabou apagando,

Era tão simples esse temporal antes de sê-lo...

Houveram alegrias em tempos agora já partidos,

Quando o riso era frequente nos lábios e o rosto

Colaborava com esta mais que agradável tarefa,

O meu mundo era meu e também de meus sonhos...

Imaginei as fantasias com detalhes minuciosos,

Era como um mago e suas mais sutis façanhas,

O realismo ainda não tinha acertado o seu alvo,

O alvo era eu como quem cai e não se levanta mais...

Até o que se distanciou e que nunca mais pude ver

Permanece bem perto e morando em meu coração

E já possui passagem garantida para aquele dia

Quando a minha grande viagem finalmente ocorrer...

Um cão velho e sem dentes é o que eu estou sendo,

Minha vista já está quase totalmente embaçada

E aquela pobre e fatídica falta de pernas ágeis

Não deixa nem ao menos chegar para fuçar o lixo...

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