segunda-feira, 31 de julho de 2023

Ainda Delírio

Onças no café da manhã

Potes de doce no Imperial

Orquídeas safadas da rede

Retirei todas as teias

Com calma sufocante e ri

A geladeira vazia e gelada

Mas a alma tão cheia

De estranhas modernidades

Nada foi nunca como antes

E as sobrancelhas eriçadas

Numa forma tão artificial

Espeto os dedos nos espinhos

De um passado que puxo

E não voltará jamais

O fluxo de um rio nervoso

Faz que ria desesperado

Eu coleciono pedras do acaso

Para mastigá-las surdamente

Minha voz em falsete

Lembra algumas terribilidades

Enquanto as montanhas caem

Bate o atabaque com pressa

E com a brasilidade do mundo

Esfriou dentro do vulcão

Mesmo na hora da erupção

Erraram comigo e eu também

Fiz uma festa profana e sã

Reclamações e sardinhas

Folias de Reis e tamancos

Máscaras tribais e jilós doces

Farinha e sal impossíveis

Tatus e cajus rimantes

E narcisos gagos e vesgos

A morte é uma folia sem

E o polvo é do povo

Tragédia grega favelada

E nomes insinuantes de nada

O poeta riu até se cagar...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).


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