quinta-feira, 30 de maio de 2019

Prementes Observações

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Meus escabelos foram todos para o ar
e as nuvens cinzas colaboraram na nova pintura...
Eu agora sou o mais recente dos estetas
e bandos de andorinhas são minha obra-prima...
Coloquei um teto solar em meu carrão
para imitar certos filósofos de vanguarda...
O meu desespero foi sempre motivo de anedota
e aquele meu amor secreto foi mais ainda...
Estou em todas as cores com suas matizes
mas o azul é ainda a que mais me faz chorar...
Não me acostumei com certos costumes modernos
e isso pode ser até um bom sinal de eternidade...
Os bufões fazem o aquele mais justos dos papéis
a graça acaba ficando em abismos que nascem...
Há sempre um aviso naquela placa de contramão:
só os tolos insistem no seu egoísmo mais barato...
Está aqui! Está aqui! Gritava o menino contente
por ter descoberto segredos de muitas águas...
Quantas vezes terei que insistir em repetir
que tudo é carrega de um misticismo imperceptível?
Quantas vezes chegarei nas festas ciganas
para poder pelo menos admirar suas fogueiras?
Eu sou tudo o que nunca fui e nunca serei
enquanto os versos me perseguirem feito cães...
A moça simpática sentada ao meu lado escreve
mas desconhece se amanhã estará fora do ar...
O rapaz de pé tem o semblante preocupado
como se isso fosse adiantar de alguma coisa...
Os pombos chegam para garimpar migalhas
e são mais ditosos que muitos monges já esquecidos...
Nada é mais terrível que a obscenidade
que acabou resultando em coisa alguma...
Os segundos foram criados para exaustivos ensaios
das apresentações que nunca vamos terminar...
A diferença entre a vítima e o assassino 
é apenas sobre a questão de quem vai primeiro...
Eu posso ser daquilo que assim quiser
mas sinceramente dispenso artefatos de jade...
É curioso não ter cara de nada de não saber nada
enquanto versos como vermes se movimentam na mente...
Eu sou o meu próprio e derradeiro incômodo
e por tal motivo sou a minha definitiva solução...
As muralhas são feitas de papel machê 
com alguns requintes de uma absoluta falsidade...
Não entender coisa alguma é o começo
de uma relação amistosa que pode durar séculos...
Meus olhos estão cheios e meu estômago vazio
não posso reclamar pois o inverso seria desesperador...
Podem anotar em seus céleres apontamentos:
a eternidade pode ser um berços de incontáveis erros...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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