quarta-feira, 15 de maio de 2019

Morreu Feio

Morreu feio...
Caiu na rua feito um saco de batatas
Fiel representante entre os primatas
E afinal nem pagaram as trinta pratas...

Morreu feio...
No meio da pista como um saco de lixo
Chama logo o gari pra tirar esse bicho
Pra pobre não é preciso se ter capricho...

Morreu feio...
Podia ser mais um otário ou um esperto
Mesmo a rua cheia é sempre um deserto
Tem sorte se tiver amigo ou parente perto...

Morreu feio...
Nem sei se foi bala perdida ou coração
Se morreu tranquilamente ou por aflição
Com o bucho cheio ou foi por inanição...

Morreu feio...
Talvez alguém aflito esteja lhe esperando
Se estava sozinho ou estava namorando
Geralmente a morte nunca nos diz quando...

Morreu feio...
Ficou ali no asfalto feito boneco desengonçado
Talvez o seu relógio de camelô seja roubado
Ou seu tênis de marca acabe sendo levado...

Morreu feio...
Vem aí o plástico preto e o maço de velas
Estão se abrindo pra ver todas as janelas
Bem mais tarde vai haver pão com mortadela...

Morreu feio...
E antes que os urubus venham então lhe sobrevoar
Ou alguma carpideira improvisada venha chorar
Espera mais um pouco que o rabecão vai te levar...

Morreu feio...


(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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