terça-feira, 10 de outubro de 2023

Ano Retrasado

Sem chuva...

Apenas um vento cabreiro

Indo até minhas orelhas e perguntando:

Cadê minha chave?

Debaixo do pé de mangueira

O menino escutava canções

No pequeno rádio de pilha...

Um chinelo novinho

Aos meus descalços pés...

A maré não está pra gato

E uma andorinha fez ninho no terraço

E ficou com raiva do verão...

Covardia para todos os homens

Principalmente para os tolos

Que pensam que comem dinheiro...

Meu cão virou filósofo

E me ensina lições de ternura

Que até choro sentindo dor...

Solenemente conto minhas rugas

Me lembrando de cada uma delas

E de minhas inúmeras cicatrizes idem...

Oh, minhas quimeras! Minhas quimeras!

Acabei de vir da loja

De onde comprei ração pra vocês...

Uma guerra no noticiário 

E bilhões delas ocultas sob corações...

Cadê minha chave?

Deve estar sob o tapete da sala

Ou eu a engoli com um gole d'água

Conforme mandava a bula...

Faz muito e muito tempo...

Não me lembro nem mais quando foi...

Será que foi ano retrasado?...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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