quinta-feira, 15 de junho de 2023

Da Cegueira do Velho Homem

Aquele senhor negro, velho e cego

Conhecia meus passos,

Não pela luz que desconhecia,

Mas pelo tempo das manhãs

E pelo som de meus passos apressados...

Tinha toda a calma do mundo

E aquela calma era quase felicidade...

Suas pupilas brancas eram sábias...

As moedinhas do meu troco do pão

Não eram quase nada, mas eram tudo...

O menino franzino que ele nunca viu

Passava-lhe um pouco da felicidade

Das balas que podia comprar...

O quintal cheio de mato,

O pequeno quartinho de madeira,

O banco de madeira no seu mesmo lugar,

Isso tudo em tantos anos que se passaram...

O menino cresceu, a doença chegou mais,

A morte veio um dia lhe buscar...

Onde foi parar o velho cego?

Talvez esteja brincando com seus "netinhos"

(Crianças de cabelos cacheados e asas...)

Em algum lugar tão bonito como nunca viu...

Onde foi parar o menino das moedas?

É agora um velho muito e muito triste

Escrevendo milhares de palavras

Que talvez nunca sejam lidas...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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