segunda-feira, 10 de junho de 2019

Nova Estética da Incoerência

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Enquanto um Cristo dorme em meio aos ouros das catedrais, os meninos dormem o sono intranquilo do qualquer lado, onde chacinas são vendidas à vista ou em suaves prestações. Dorme tudo, o mundo acordado de dias de princípios invertidos, os venenos que são inventados pelos cartéis de homens sem consciência.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. E é tão normal a anormalidade gargalhando tão profana...
Quanto mais alguns poucos pensam e se impacientam, as multidões famélicas se prostituem num carnaval fora de época. Não são sonâmbulos, são zumbis que a carne ainda não apodreceu, são autômatos programados, uma mistura quase coerente de urubus e carniças.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. E há uma desculpa sensata para qualquer uma anomalia...
E os demônios antes inquietos com a humana raça, agora tremem de tédio e de pavor, sair do inferno, não, nunca jamais, pois sobre o chão anda um predador bem maior, aquele que coloca na fogueira seus santos e que arrancou das mãos de Deus seu martelo.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. E a esperança há de ser morta na porrada...
Os ditadores do passado, os antigos eram todos idiotas, matar alguns milhões é coisa fácil, a morte os levou num sorriso, pois agora matar é uma arte deveras refinada, não mate como o machado que decapita, mas como o câncer que irá comendo aos poucos e mesmo do além seus fantasmas rirão.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. E Pedro agora negará apenas três milhões de vezes...
E todos os corpos são expostos em novas vitrines, o tesão agora vem embalado à vácuo, o anormal acabou de perder a letra da frente e uma eterna adolescência doentia acaba com algum encanto, há uma eterna masturbação onde o outro é apenas um brinquedo novo.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. A simpática velhinha sorri enquanto tira a cachaça da sacola de compras...
O empalhador tem muito trabalho, as máquinas devastam o chão, queimem as palhoças, assem os pajés no rodízio da churrascaria, o deus do agronegócio tem um contrato firmado com o velho deus que sabe ler o livro, mas desconhece piedade para os filhos que pariu.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. Agora e sempre somos proibidos de ser o que sempre somos...
E o moralista caga na sala de estar e coloca sua merda sob o tapete, o politicamente correto mija e não dá a descarga, os novos já nascem velhos com tantos preconceitos e a ferrugem come o aço inoxidável de nossas lâminas, pois ser covarde e bom pai de família é hábito, mais que tudo, fotografia.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. Me arrependo de muitos e muitos nãos que um dia disse...
Deveríamos ter dado ouvidos à loucura, esquecido menos velhos erros que se repetem, olhar para os que precisam com pouco mais de paixão, os pilotos dos caças deveriam ter dado meia-volta e bombardeado os generais em seus quartéis e não ter estraçalhado nossas crianças, nunca mais.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. Deitados em berço esplêndido e envoltos numa mortalha assim estamos...
E o concurso continua para ver quem mete mais, se é a tela com sua novela ou as letras sujas pelos jornais, mentir é mais fácil, é mais bonito, somos auto-suficientes em nossas carências e tudo vai do mesmo jeito até que o barco afunde ou o viaduto caia de uma vez.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. Não são as mãos que pedem esmolas, são os olhos que suplicam...
A dignidade é coisa ultrapassada, nossas alucinações possuem horário e eu vejo mais piedade em sites pornôs, não nos mentem, são aquilo que são, por algumas moedas nossa paz sai do delivery e ainda são servidas quentes como nós pedimos, santo cartão de crédito.
Já faz parte, ser nada, ter nada, viver nada. Fechar os olhos e fingir dormir esperando que a tempestade logo passe...

(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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