sexta-feira, 7 de junho de 2019

E Eu Vi a Límpida Face do Nada

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Fantasias histriônicas
de um poeta estrábico
em dúvidas aristotélicas
sobre o que não fazer 
em momentos de deleite
onde chorosos céus
cobrem sua cabeça
Respirar é a única opção
e nos velozes ventos
notícias algumas surgem
severos haicais caem
aos montes no chão vadio
que o esquecimento surge
para desprezo total
E uns versos famélicos
estranhos soaram
pela manhã sem dono
estamos em estágios
de notório atraso
e mesmo o esforço
debalde dá em nada
Faça-me o favor
vire-me o rosto
e caminhe em frente
porque certos medos
acompanham sérios
os que nada mais têm
neste exato instante
Eu escuto músicas
que nunca entendo
o idioma que cantam
e meu desconhecimento
pode ser plausível
e deveras agradável
e sem classificação
Note-se apenas o detalhe
de que peitos são assaz
perigosos sob pressão
e os sentimentos reprimidos
podem de uma vez
construir tanto altos prédios
como deuses e demônios
Eu vi a límpida face 
daquele meu nada ontem
e não estranhei mais
a sua notória familiaridade
como um rio paralisado
ou ainda um brinquedo
que não sabemos brincar
Em antigos estúdios
ainda existes poses
mais do que estudadas
e os candomblés tocam
enquanto até minh'alma
segue o ritmo dos tambores
e entra em fundo transe
Matar-me é dispensável
porque a vida é ritual
de funções biológicas
e nem os hábeis da ciência
descobrem motivos 
que expliquem tais milagres
há muito em moda
Fiquei totalmente lúcido
e isso entristeceu-me deveras
porque espirais aromáticas
ainda rodopiam atentas
para ver se meus medos
ainda acendem algo
A poesia ainda é a nossa
estratégia mais eficaz
para que os malvados
fujam para longe
e mesmo que pouco
deixem-nos algumas dádivas...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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