quarta-feira, 6 de setembro de 2023

O Paciente Ainda Tem Chances de Fugir Voando Pela Janela da Enfermaria

Eu que saiba, minha alma dança em gestos congestos, correndo para o nada e quem sabe, esse nada de alguma coisa me proverá. Faltam anjos, sim, faltam anjos, mesmo que seja de papel recortado, não de sonho e milagre. Tenho pressa, tenho muita, antes que a bomba exploda e eu saia catando o que a rua pode me dar ou não.

Como é simples o desespero, falar coisas bonitas só depende da boca, mesmo que isso seja apenas um simples disparate. Todos nós enganamos à nós mesmos, diariamente, regando mentiras para que elas fortaleçam e nos matem. As palmas erraram sua direção e a mediocridade usa todas as desculpas cabíveis. 

Os ossos serviram para flautas, assim como usaram a epiderme para o couro de tambores para que a mentira tivesse sua bela apresentação. Caixões antecipados levam zumbis vivos para outros cemitérios inventados. É um novo cheiro no ar. A nova ousadia é a maior das covardias possíveis.

Deus-dinheiro, deus-dinheiro! Ele nos tirou o resto de humanidade que tínhamos. Mesmo antes, éramos vilões tresloucados, agora não mais. O dolo permanece entre nós, como uma flecha certeira entrando no peito e varando o coração.

Todas as madrugadas mentem, mentem sim. Enquanto parem monstros piores - os dias. Todos os fantasmas assustam menos do que a verdade, todos os dilemas debocham da primeira cara que aparecer pela frente. É o vírus, é o vírus! Que vem pelo ar suavemente, para matar definitivamente qualquer coisa que esteja em seu caminho. 

Vamos logo, vamos logo. A verdade espera para nos agredir, mas não nos matará. A mentira aproveitará virarmos as costas, seu punhal está pronto sempre. O paciente ainda tem chances de fugir voando pela janela da enfermaria. Cada vez pode ser a última, não demos mais bobeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Céu para Os Cães (Miniconto)

Deve existir um céu para os cães. Para os homens, isso eu não sei. Poucos merecem isso, então por que fazer um espaço tão grande pra tão pou...