terça-feira, 29 de março de 2022

Poema de Uma Observação

 

Foi estrela, foi, não foi, foi, não foi,

Desatinos colados em brancas paredes

(Paredes estas já sujas pelo tempo)

E águas paradas que machucam demais

Aqui eu estou ainda neste meu canto

Quase vivo, quase não, quase vivo,

Com os pés de todo cansaço existente

Até que acabe a gasolina do motor

E as engrenagens parem surdamente

Não haverá mais brinde com taças

De um mais puro e falso cristal

Já fomos vendidos como bons escravos

Para as circunstâncias que nos levaram

Eu sou barco, eu sou mar, eu sou barco

Ou talvez um mero e triste albatroz

Querendo chegar logo e logo lá

Onde nem faço ideia onde é ou será

Rasgo a camisa em vários pedaços

Não me importa mais estética alguma

A menina bonita tem errado os tiros

E agora os likes só lhe sabem ferir

Até que somente os ossos existam

O fogo acendeu, o fogo apagou, acendeu

Dança da chuva não posso mais fazer

Falta-me um penacho adequado

E minha voz para os gritos se silenciou

A visão mística dos seus pelos pubianos

Me fez lembrar aquelas velhas revistas

Com a cumplicidade solitária de banheiros

O capim agora cresce tranquilo no jardim

Entre outras ervas que não conheço

É a guerra, não é, é, não é, é, não é

Enquanto os burgueses limpam os óculos

E os meninos vendem balas pelos sinais

Tudo corre normalmente anormal

E nem eu sei mais o que acontece comigo

Nem uma vela para a alma de Pessoa adianta

Está tudo abafado como sempre esteve

E os meus dedos são apenas desobedientes

Como tudo o mais que encontrarei

Foi estrela, foi, não foi, foi, não foi,

O cachorro pequinês foi enterrado no quintal...

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