sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Logo Ali

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Tudo é uma farsa bem montada, com cenário, figurino e personagens bem transados. Nada mais é, é puro teatro. Os nossos enganos aplaudem ardorosamente de pé toda essa farsa. É logo ali o abismo, pode pular de cabeça...
O sol bate no alto de todas as torres, até quando ninguém sabe, não sabia e nem saberá. Esta é a vida, começo de morte. As nossas esperanças saíram correndo assustadas. É logo ali o mar, pode mergulhar bem fundo...
O vento varre folhas para bem longe, seu destino é ali, é lá e é qualquer lugar. O destino é assim mesmo, imprevisível. De repente damos de cara com o inevitável. É logo ali a escuridão, se esconda quietinho nela...
Todo amor é uma empreitada cheia de riscos, desencontros, desilusões que matam. Dele ninguém poderá fugir. Nem os deuses e nem os demônios podem nos salvar. É logo ali o infinito, conte logo as estrelas...
A solidão me acompanhou, me seguirá, vai me acarinhar, essa é sua função, nada mais. Somos sozinhos acompanhados. Eu me acostumo com quase tudo. É logo ali a fogueira, entre direto nela...
Toda razão carece de lógica, de base, de fatos concretos que lhe apoiem. A loucura sempre esteve em alta. Há muitos loucos dentro e também fora das celas. É logo ali a estrada, ande nela até sumir...
A nossa espera é inevitável, desesperadora, irritante, um rude carrasco. Todos os relógios acabam se atrasando. E vamos levando todo esse peso. É logo ali a cela, não se esqueça de apagar a luz...
Vários carnavais já se passaram, morreram, ficaram sob as cinzas das quartas. Tudo o que é bom passa logo. Mas o que é mau pode ficar mais um pouco. É logo ali a felicidade, mas ela passa logo...
Tudo é uma farsa bem fadada, com horário, itinerário e personagens mascarados. Nada mais é, é puro teatro. Os nossos enganos aplaudem ardorosamente de pé toda essa farsa. É logo ali o abismo, pode pular de cabeça...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria Carlinhos de Almeida).

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