segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Velha Tela


Eram filmes velhos que a tela velha exibia. Ou eram também desenhos velhos. E o menino ria e ria. Uma velha tela com caixa de madeira. Numa sala humilde e de qualquer maneira. A lâmpada quase que balançando. E de noite o menino desejando. Não dormir e não dormir. Porque o sono na verdade era ir. Direto para tristes pesadelos. Mas não bastavam seus apelos. E os olhos pesavam e pesavam. Até que finda a batalha fechavam. Mas quando noutro dia abriam. Depois de um tempo sorriam. Ela estava lá pesada e pronta. Mas o menino se apronta. Pois este era seu afã. Não dá pra ver de manhã. É preciso viver suas dores. Em grandes corredores. Espere voltar. Espere sentar. Espere o grande sofá. Espere imaginar como é a cor. Na ilusão morre a dor. A dor até acostumada. A dor já conhecida. A dor premeditada. Que se chama vida. A dor que às vezes nem tanto dói. Vem minha amada. Sou teu herói. Sou eu que trago. A varinha do mago. A mágica do dia. Numa velha caixa coberta de alegria. Eram filmes velhos que a tela única exibia. Ou eram desenhos antigos amigos. E o menino ria e ria. Um menino o qual pareço. Mas que há muito morreu. Um menino que ainda conheço. E esse menino sou eu. Um menino que me conhece. Um menino que foi um dia. Que rezava sua prece. Mas que ninguém atenderia. Um menino que simplesmente veio. E quem o levará de volta? Que veio ver o feio. E o mais não nota. E as vezes o fundo do poço. Que era uma tela também. Era um tempo moço. Que mesmo assim fez bem. Era uma tela. Era a novela. Era uma janela. Preto e branco e aquarela. A mais bela. Era aquela. Quem me dera. O tempo levou embora. E hoje a colorida. Tem menos vida. É assistida. Sem ilusão. Menos querida. Do meu coração. Não durmo mais cedo. Mas continua o medo. Continua o choro. E é normal. Sem bacurau. Mas com agouro. Era o mundo na velha tela.

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