terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Fumaça No Coco

E eu com a minha caretice tão louca

Usando minhas estampas coloridas

E aquelas mochilas que não uso mais

As teclas e o teclado vão dar no mesmo

Gregos e troianos usam a mesma cara

Tanto a catira e o xaxado usam os pés

E asas são abrangentes sempre demais

As matilhas agora são tão organizadas

Como o riso que começou sem parar

Os corredores estão cheios de vazios

E o tamanho de seu nariz é só detalhe

Uma farofa de nuvens tem o seu lugar

Não entender pode ser qualquer jeito

Enquanto dândis adoram seus farrapos

A maldade é mais uma forma de burrice

E a minha dor agora não tem impacto

Agora comeremos mais o baião de três

Enquanto o morto vende sua gasolina

A minha amnésia tem tão boa memória

E meus dedos de cachoeira são insanos

A nossa mala não tem mais o iogurte

E as rabecas encontram-se em silêncio

É um piercing de prata feito de laranjas

E meia dúzia de sanduíches de vidro

Até mais não significa agora mais nada

E o concretismo tem seus ares de etéreo

As formigas batucam com seus dedos

E os camelos adoram sorvetes de morango

Nada é tão diferente quanto é o igual

E os olhos dela enchem-se de tanto padê

Num país mestiço de tantos mestiços

A minha milonga possui mais tranquilidade

As pernas abertas e as mãos só fechadas

Enquanto os políticos pulam amarelinha

E as raridades estão cada vez mais normais

Seu uniforme agora é a nudez em pelo

E a enciclopédia foi achada no meio do lixo

É só puxar um fio e o casaco irá embora

Na terceira garrafa eu juro que vou parar

O prazo de validade perdeu o seu prazo

Qualquer jardim possui suas ervas daninhas

E a própria sabedoria não mastiga pedras

A filosofia não gosta mais dos filósofos

E o falso dentista só fala entre os dentes

Besteira pouca sempre será uma besteira

Meu bandolim nunca mais me visitará

Minha sombra está descansando na sombra

A ladyboy pula a fogueira com saltos de mola

O amor pode ser tudo até pode ser vingança

Todo elogio post-mortem é apenas deboche

Todos estarão presentes em minha ausência

A eternidade é a mais passageira de todas

E eu com a minha caretice tão louca

Usando minhas estampas coloridas

E aquelas mochilas que não uso mais...


(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Céu para Os Cães (Miniconto)

Deve existir um céu para os cães. Para os homens, isso eu não sei. Poucos merecem isso, então por que fazer um espaço tão grande pra tão pou...